Há vagas para técnicos, como engenheiros e eletricistas, e também em serviços para a área, incluindo contadores e advogados.
Se há alguns anos, a energia limpa crescia como assunto no Brasil e a transição energética era algo sonhado, hoje vivemos uma realidade de produção de energia eólica e solar no país.
A energia solar fotovoltaica, por exemplo, atingiu a marca de 40 gigawats de potência instalada operacional em março deste ano. E quando a transição acelera, a empregabilidade no setor também avança.
De acordo com o relatório do LinkedIn “Energy Workforce Trends and Outlook”, publicado em fevereiro, o Brasil foi o país com maior aumento no número de profissionais atuando nos setores de energia solar e eólica nos últimos sete anos. A alta desde janeiro de 2016, de acordo com o relatório, foi de 146%.
Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, o ganho de escala, com fábricas e parques cada vez maiores, o crescimento da demanda energética no país e a valorização do preço de energia, além da pressão para a transição energética, são fatores que influenciam o mercado de trabalho.
De 2019 até janeiro último, de acordo com dados da Absolar, pelo menos 1,2 milhão de pessoas foram inseridas nos chamados “empregos verdes” de forma direta. Mas além dos empregos diretos, há os indiretos, como contabilidade e jurídico dos projetos, fornecedores de insumos, entre outros.
Justamente por isso, as oportunidades no setor não contemplam apenas profissionais das engenharias, eletricistas e técnicos em eletrotécnica. Incluem profissionais que trabalham em áreas como comunicação, vendas e logística, entre outras.
Parte das vagas na energia solar, diz Sauaia, são para profissionais de ensino superior, que representam de 20% a 25% dos trabalhadores da área. A maior parte das contratações, no entanto, é para formações de nível técnico.
Ao mesmo tempo em que são criadas oportunidades de emprego, explica o presidente da Absolar, há uma urgência para a capacitação dos profissionais. Por isso, seja no nível técnico ou superior, os profissionais precisam buscar, depois das formações de base, especializações em energia fotovoltaica. “A energia solar proporciona empregos com salários acima da média nacional”, afirma Sauaia. “São empregos locais de qualidade, a maioria pagando mais de dois salários mínimos. Esses empregos estão espalhados pelo Brasil e não concentrados em determinadas regiões.”
Ele aponta, ainda, uma geração de empregos em áreas historicamente deficitárias, como a região Nordeste, onde a maioria dos projetos em operação estão hoje. Além disso, a maioria das usinas solares está em cidades interioranas – onde o custo da terra é mais baixo. “A somatória desses fatores faz da energia solar uma tecnologia que contribui para o desenvolvimento regional e para reduzir disparidades, distribuindo renda, do ponto de vista geográfico”, ressalta Sauaia.
Segundo Glauco Santos, diretor de energia solar na Elgin, “a transição para fontes de energia renovável, como a solar, tem sido uma das principais tendências globais, impulsionada por preocupações com o meio ambiente, avanços tecnológicos e políticas de incentivo”. Isso, segundo ele, está gerando uma demanda significativa por profissionais qualificados em todos os aspectos da cadeia de valor solar, desde a fabricação e instalação de painéis solares até a gestão de projetos e a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
Bruno Riga, responsável pela Enel Green Power Brasil, empresa que atua no ramo de energia hidrelétrica, eólica e solar no Brasil, pontua que existe “uma demanda de aumento da qualificação dos profissionais locais, para que o desenvolvimento regional seja ainda mais potencializado e que as comunidades locais experimentem os benefícios do aumento da qualificação de mão de obra”. A empresa opera atualmente 16 complexos eólicos e 8 solares no país.
O estudo “A mão de obra na cadeia produtiva do setor solar brasileiro”, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), levantou o índice de empregos diretos para cada uma das principais atividades da cadeia produtiva: fabricação, projetos, instalação e operação e manutenção. Os resultados mostraram que a instalação é o processo com maior geração de empregos no setor, sendo 8,88 para
cada megawatt instalado, seguido pela área de projetos, com 4,11 empregos por megawatt.
Em cada etapa, profissões específicas são demandadas, de acordo com Laura Porto, diretora-executiva de renováveis da Neoenergia. As principais se referem a profissionais de engenharia elétrica, civil, de telecomunicações e mecânica com experiência na área de renováveis. Também existe demanda para analistas e coordenadores de saúde e segurança do trabalho, meio ambiente, qualidade e
planejamento, além de funções administrativas e líderes de pessoas e processos em geral.
Os empregos verdes também abrem a porta para a diversidade e acompanham a implementação da pauta ESG nas empresas. A participação de mulheres no setor de energia solar fotovoltaica é maior do que em energia no geral, inclusive em diferentes níveis hierárquicos dentro da estrutura do setor. “Não significa que já esteja equiparado em relação à igualdade de gênero e a gente reconhece isso”, diz Sauaia.
A Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) conduziu um levantamento e identificou que, no segmento de renováveis, a participação de mulheres é de 33%, enquanto no setor de energia em geral ela é de 22%.
Para quem deseja ingressar na área, Sauaia incentiva buscar conhecer de perto o setor, se envolver em eventos, workshops, conferências, além de obter formações complementares de acordo com seu objetivo profissional.
Em relação à energia eólica, além das vagas para desenvolvimento dos parques, com empregos nas áreas de projetos e construção civil, há um setor em destaque: eólica offshore.
Segundo Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), com a aceleração de investimentos nesses projetos, “teremos uma série de cargos relacionados ao mar”, explica. Funções como engenheiro naval, engenheiro químico ou de processos serão demandadas, além de profissionais de logística, engenheiro de tráfego e profissionais de ESG e de direito com foco em regulação.
O estudo “Estimativas dos impactos dinâmicos do setor eólico sobre a economia brasileira”, da LCA Consultores, feito para a ABEEólica, calculou uma estimativa da geração de empregos a partir da capacidade de megawatts instalada no ano. O levantamento estima que de 2019 a 2023, pelo menos 168 mil empregos foram gerados na fase de construção dos parques, calculado com base na estimativa de 10,7 empregos por MW. “Se a estimativa da indústria é crescer 4 GW em 2024, teremos cerca de 45,2 mil novos postos de trabalho”, diz Gannoum.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/carreira/noticia/2024/05/02/transicao-energetica-cria-oportunidades-de-emprego.ghtml