Transição energética para economia de baixo carbono atrai novos negócios

Demanda por fontes de energia renováveis vai crescer mais de quatro vezes até 2050, acelerando o surgimento de empresas e o desenvolvimento de soluções pelas petroleiras que já atuam no mercado.

Da apresentação de dados inéditos ao perfil dos expositores, pareceu claro para quem esteve na ROG.e, mais tradicional evento de negócios do setor de petróleo e gás do país, que a transição energética para uma economia de baixo carbono, tida como essencial para mitigar as mudanças climáticas, deverá deixar as cartas de intenção e entrar de vez nos modelos de negócios.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aproveitou o evento no Rio para divulgar seu relatório anual sobre o cenário prospectivo para o setor, projetando que o consumo de petróleo e gás seguirá crescendo até 2050, mas o peso das diferentes fontes de energia mudará. Nas estimativas da entidade, a demanda por fontes renováveis mais do que quadruplicará até a metade deste século.

O IBP, entidade que representa a indústria nacional de petróleo e gás e organiza a ROG.e, notou o peso da transição energética no perfil dos participantes do evento. Cerca de um quarto do programa técnico foi dedicado a temas diferentes do petróleo, disse Roberto Ardenghy, presidente do IBP.

Segundo especialistas e executivos, são dois caminhos principais pelos quais a transição energética impacta a indústria de petróleo e gás. Numa frente, surgem negócios — produção de hidrogênio verde, geração de eletricidade eólica offshore e novos tipos de biocombustíveis — criados tanto por empresas tradicionais do setor que buscam diversificação e adaptação quanto por novos concorrentes.

Em outra, petroleiras e fornecedores correm para reduzir a “pegada de carbono” da exploração e produção.

Na primeira frente, a Prumo, empresa controlada pelo fundo americano EIG e que opera o Porto do Açu, complexo porto-indústria no litoral do Norte Fluminense, firmou na ROG.e um contrato de reserva de área com a HIF Global, companhia criada em 2020 para produzir combustíveis renováveis a partir de hidrogênio verde, energias renováveis e dióxido de carbono (CO2) reciclado.

A área reservada fica dentro do hub de hidrogênio e derivados criado recentemente pela Prumo.

e-combustíveis avançam
A empresa tem apostado em indústrias da transição energética como vocação do complexo portuário, com destaque para o hidrogênio verde e a geração eólica offshore. Segundo o presidente da Prumo, Rogério Zampronha, a transição energética já é uma realidade, com “contratos de uso de área para construir uma fábrica”. O executivo chamou a atenção para o fato de que esses negócios têm atraído novos investidores, que oferecem concorrência às tradicionais empresas de energia.

É um caso análogo ao do setor automotivo, em que novos entrantes, como a americana Tesla ou a chinesa BYD, podem sair na frente de gigantes tradicionais, como a americana GM e a alemã Volkswagen:

— Os investidores nos produtos da transição energética, como e-combustíveis ou insumos químicos substitutos dos fósseis, como amônia ou metanol, já não são os grandes produtores de petróleo que querem migrar para essas novas tecnologias. São empresas mais novas, financiadas por grandes fundos de investimento.

Isso não significa que as petroleiras tradicionais estão paradas. A anglo-holandesa Shell, que deu um passo decisivo no rumo da energia renovável ao se associar à gigante de açúcar e etanol Cosan na Raízen, reafirmou sua meta de atingir “emissões líquidas zero” até 2050 em todas as operações e produtos energéticos.

Segundo a empresa, até o fim do ano passado, foram alcançados “mais de 60%” da meta parcial de reduzir pela metade as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) nas operações até 2030, ante a 2016.

No Brasil, a Shell informou que investe R$ 500 milhões por ano em pesquisa e desenvolvimento — 70% são destinados a projetos voltados para descarbonização e eficiência da indústria offshore; o restante vai para “o estudo de novas tecnologias de baixo carbono e em transição energética”.

Segundo o presidente da Shell no Brasil, Cristiano Pinto da Costa, a meta da companhia de zerar emissões de GEEs até 2050 é um “desafio complexo”:

— Passa por investimentos em fontes renováveis, como o etanol, além de outras soluções de baixo carbono. É preciso também reconhecer a relevância do setor de petróleo e gás na matriz energética global pelas próximas décadas, embarcando novas tecnologias que tornem a atividade mais competitiva gerando menos emissões.

A questão do papel do petróleo e do gás natural na transição energética pairou pelas discussões nos painéis da ROG.e. Conforme a Perspectiva para o Petróleo Mundial 2024, publicação anual da Opep cuja edição deste ano foi apresentada no evento, a economia de baixo carbono não poderá abrir mão dos combustíveis fósseis.

Petróleo segue forte
Como o crescimento da demanda parece incontornável, a posição predominante de executivos do setor é de que o melhor caminho para o Brasil é garantir as reservas para seguir expandindo sua produção.

— Minha posição é que devemos continuar explorando o petróleo e utilizar inteligentemente os recursos que ele propicia tanto para redução da pobreza e da desigualdade quanto para financiar o aumento da participação das renováveis na matriz energética — afirmou Décio Oddone, presidente da Brava Energia, petroleira resultante da fusão da Enauta com a 3R.

A FPSO (plataforma flutuante) da Brava Energia que acabou de ser instalada no Campo de Atlanta, na Bacia de Santos, e será operada pela Yinson, companhia da Malásia, foi desenhada para emitir menos GEEs. Operadoras como a holandesa SBM Offshore e a japonesa Modec, vão na mesma trilha.

Segundo a Modec, as FPSOs Bacalhau e Raia, que serão entregues em 2025 e 2028, respectivamente, para a petroleira norueguesa Equinor estão sendo desenhadas para emitir menos carbono. A SBM Offshore faz o mesmo com a FPSO Alexandre de Gusmão, que vai operar no Campo de Mero, da Petrobras.

— Recentemente, assinamos um acordo com a Mitsubishi Heavy Industries para a fabricação e instalação de módulos de captura de carbono, que têm por objetivo reduzir significativamente a emissão de GEEs dos novos projetos — afirmou o diretor-geral da SBM Offshore no Brasil, Jonas Henrique Lobo.
O Globo.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/10/04/transicao-energetica-para-economia-de-baixo-carbono-atrai-novos-negocios.ghtml

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