País pode se tornar um dos principais fornecedores de metais como cobre, níquel, cobalto, lítio e elementos de terras raras
O aumento da demanda mundial por energia limpa está acelerando os investimentos na exploração de jazidas dos chamados minerais críticos ou estratégicos no Brasil. Nos próximos cinco anos, o país deve investir aproximadamente US$ 8 bilhões nos principais minerais estratégicos, segundo Júlio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Só no cobre, a expectativa é que os recursos alcancem US$ 4,47 bilhões, enquanto o níquel desponta em segundo lugar, com previsão de investimentos de US$ 2,3 bilhões.
É um avanço natural, aponta Vitor Saback, secretário nacional de geologia, mineração e transformação mineral do Ministério de Minas e Energia (MME). “O Brasil tem subsolo rico e grandes chances de ser um dos principais fornecedores de metais como cobre, níquel, cobalto, lítio e elementos de terras raras”, diz ele. “Possui grandes reservas dos principais minerais necessários para transição energética e energia limpa e renovável capaz de implementar um processo verde de produção”, salienta.
O lítio, por exemplo, usado para fazer baterias – desde as pequenas para celulares até as de carros e ônibus -, é considerado um metal estratégico devido à sua crescente demanda mundial. O Brasil já se destaca como o quinto maior produtor, com reservas estimadas em 1 milhão de toneladas.
“Hoje, a bola da vez é o lítio”, afirma Nery. “Temos um projeto da Sigma Lithium que investe US$ 2,3 bilhões na extração do mineral no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais”, ressalta.
Maior produtora mundial de minério de ferro, a Vale S.A. avalia que a transição energética é um grande impulsionador de crescimento do próximo ciclo de mineração. Segundo Eduardo Bartolomeo, presidente da empresa, a estratégia consiste em garantir e desenvolver produtos de alta qualidade e buscar estar entre os produtores de níquel e cobre com a menor emissão de carbono. A Vale tem operações de níquel no Brasil, Canadá e Indonésia e refinarias no Reino Unido e no Japão. E produz concentrados de cobre nas operações de Sossego e Salobo, em Carajás, no Pará. “Estamos bem posicionados para participar do desenvolvimento da cadeia de suprimentos de veículos elétricos na América do Norte e na Europa”, afirma Bartolomeo.
No município de Conceição do Araguaia, no Pará, a Horizonte Minerals, empresa listada nas bolsas de valores de Londres e Toronto, deve começar a operar, no primeiro trimestre de 2024, o Projeto Araguaia Níquel. A produção inicial será de 14,5 mil toneladas de ferroníquel por ano, destinadas ao mercado de aço inox. Mas a expectativa é dobrar a produção quando estiver em capacidade plena – um total de 29 mil toneladas de níquel por ano, afirma Tiago Miranda, diretor financeiro da Horizonte Minerals.
Outro metal altamente promissor no Brasil são os elementos terras raras (ETR). O país tem a terceira maior reserva do mundo, com 21 milhões de toneladas, de acordo com dados do Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao MME. Contudo, a produção brasileira ainda não tem maior relevância mundial, indica a geóloga Ioná de Abreu Cunha, do SGB.
O quadro começa a mudar, no entanto, com a perspectiva de início da produção comercial do projeto da Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM), em Minaçu, no Estado de Goiás, no fim deste ano. “Será a primeira operação em escala fora da Ásia a produzir todos os quatro elementos de terras raras magnéticos, essenciais paras a fabricação de ímãs permanentes, usados em motores de veículos elétricos e geradores de turbinas eólicas”, explica Ricardo Grossi, presidente da Serra Verde. Em janeiro deste ano, a Serra Verde, um empreendimento da australiana Mining Ventures Brasil, controlado pela Denham Capital, recebeu um suporte de recursos de US$ 250 milhões para investir no projeto.
Com o segundo melhor resultado financeiro no primeiro semestre de 2023 – faturamento de R$ 3 bilhões, 18,3% maior que o do primeiro semestre de 2022 -, o alumínio mantém seus atrativos, especialmente depois que União Europeia e EUA passaram a considerar o metal estratégico ou crítico e definiram políticas de fomento à produção do metal. O Brasil tem a quarta maior reserva de bauxita do mundo, estimada em 2,7 bilhões de toneladas. É o quarto maior produtor mundial do minério (34,2 milhões de toneladas), terceiro produtor de alumina (10,8 milhões de toneladas) e 12º produtor global de alumínio primário (811 mil toneladas), segundo dados de 2022 da Associação da Indústria de Alumínio (Abal).
“Projeções de organismos internacionais apontam para uma tendência de aumento da demanda global de produtos de alumínio de cerca de 40% até 2030”, afirma Janaina Donas, presidente-executiva da Abal. Segundo Donas, até 2025, estão previstos investimentos de R$ 30 bilhões em projetos a serem executados em todos os elos da cadeia produtiva: expansão de minas e reservas de bauxita, retomada da capacidade produtiva e expansão de novas plantas.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/mineracao/noticia/2023/08/29/transicao-energetica-aquece-a-corrida-por-insumos-estrategicos.ghtml