Licitação teve deságio médio de 40,9%, dando sequência a licitações com elevado desconto no setor; próxima rodada, em março de 2024, deve atrair disputa
O leilão de linhas de transmissão realizado na última sexta-feira (15) superou as expectativas do governo, confirmou o forte interesse do mercado pelo segmento e consolidou uma sequência de licitações com fortes descontos oferecidos pelas empresas – tendência que deverá persistir na próxima concorrência, marcada para março de 2024.
Nos últimos cinco anos, os deságios médios oferecidos nos leilões de transmissão de energia se mantiveram em patamar elevado. Considerando as oito licitações realizadas desde 2019, os descontos, em ordem cronológica, foram de 60,3%; 55,2%; 48,1%; 50%; 46,2%; 38%; 51%; e 40,9%.
Mesmo a concorrência da última sexta-feira, em que a expectativa era de ofertas mais tímidas, teve deságio significativo. Estava claro que seria inviável a participação de muitos grupos na licitação, pelo fato de o principal lote ser um projeto intenso em capital, com demanda elevada de mão de obra e uso de uma tecnologia específica, que restringiu o número de fornecedores. O desconto
médio de 40,85% superou as expectativas apontadas por bancos e especialistas e foi comemorado por autoridades do setor elétrico.
O resultado também reflete a resiliência do segmento nos últimos anos. As concessões de transmissão são consideradas as mais seguras do setor elétrico: trata-se de um mercado totalmente regulado, em que o vencedor ganha um contrato de 30 anos indexado ao IPCA, sem risco de inadimplência. O empreendedor que conseguir antecipar as obras ganha ainda uma Receita Anual Permitida (RAP) extra.
No leilão, a State Grid foi a principal vencedora. A estatal chinesa ficou com o maior lote da concorrência, que prevê R$ 18,1 bilhão de investimento para a construção de 1.468 km de linhas de transmissão em corrente contínua (HVDC, na sigla em inglês), para ampliar a capacidade de transmissão entre os Estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Além disso, o Consórcio Olympus, formado por Alupar e Mercury Investments (Perfin), saiu vencedor do lote 2, com previsão de R$ 2,59 bilhões de investimentos, para construir 1.102 km de linhas entre Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A Celeo Redes ficou com o lote 3, que inclui investimentos de cerca de R$ 1 bilhão, para 388 km de linhas em Minas.
Em março de 2024, o setor deverá passar por nova rodada de investimentos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a minuta do edital para a construção e manutenção de quase 6.500 km de linhas de transmissão novas e seccionamentos e de 9.200 megawatts (MW) em capacidade de transformação. Dos 15 lotes propostos, 6 têm investimento previsto superior a R$ 1 bilhão. Além
disso, a agência prevê um segundo leilão do setor no ano, em setembro.
As tradicionais empresas que ficaram de fora deste leilão deverão voltar à disputa em 2024. Taesa e ISA Cteep disseram que já estudam os lotes. Eletrobras, Alupar, Cemig, entre outras, também deverão estar presentes, segundo expectativa do mercado.
“Grandes grupos não participaram deste leilão. Esperaram e, quando se trata de corrente alternada [tecnologia prevista para os lotes da próxima licitação], há muito mais empresas com capacidade de execução. Acredito que o leilão de março será bem-sucedido”, afirmou Ricardo Lavorato Tili, diretor da Aneel, em entrevista após a licitação, na sexta.
Os leilões também refletem o momento atual de forte expansão das energias renováveis e visam ampliar a capacidade de escoamento da geração do Nordeste. O novos projetos em estudo para produção de hidrogênio verde e amônia também têm sido fundamentais para a reconfiguração da transmissão do excedente de energia do Nordeste para os centros consumidores.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/12/18/sucesso-do-leilao-de-transmissao-deixa-mercado-otimista-com-rodada-de-2024.ghtml