Cenário para novas demandas verdes ganha força com o anúncio recente do governo brasileiro de metas que ampliam a redução das emissões de gases de efeito estufa.
O Brasil pode contar com investimentos adicionais de até R$ 275,3 bilhões nos próximos dez anos caso adote entre 2025 e 2026 uma política de reindustrialização verde, com novas demandas que sejam atendidas por geração renovável.
As projeções são da empresa de consultoria Envol Energy Consulting, com base no recém-lançado Plano Decenal da Energia 2025-2034 (PDE 2034) da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A partir do cenário do PDE 2025-2034 para o crescimento da demanda nos próximos anos, denominado “trajetória atual”, a Envol criou dois outros cenários, “moderado” e “acelerado”, sendo que os dois últimos assumem a adoção de políticas públicas ou medidas específicas para uma reindustrialização verde do país, que atrairiam novas demandas por eletricidade nos próximos dois anos, com forte resposta a partir de 2028, devido à maturação das iniciativas.
A reindustrialização é considerada pelo governo um dos caminhos para um crescimento mais expressivo da economia brasileira, ao mesmo tempo que o setor elétrico vê na iniciativa uma oportunidade de retomar taxas mais expressivas de expansão da demanda elétrica, ao contrário dos últimos anos, quando o consumo cresceu mais fortemente por motivos climáticos.
Além disso, o cenário para a criação de novas demandas verdes ganha força com o anúncio recente do governo brasileiro de metas que ampliam a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Segundo Alexandre Viana, fundador e presidente da Envol, as novas demandas incluem a instalação de data centers, plantas de produção de hidrogênio verde (que utiliza energias renováveis para a produção do insumo), eletrificação de processos produtivos, armazenamento de energia, veículos elétricos e novas unidades industriais. Ele lembra que a indústria atualmente possui participação pequena no PIB brasileiro, da ordem de 25%, com espaço grande para crescer e que é atrativo para novos investidores.
“Estamos em um contexto favorável para pensar em reindustrializar o Brasil. O país é uma potência renovável e não tem problemas geopolíticos relevantes que impeçam investimentos ou travem novos negócios. Não somos vistos como um país agressivo, hostil a novos negócios”, disse Viana.
A abordagem do estudo parte do crescimento da demanda para a previsão da oferta, diferente da maioria das análises, que partem da expansão da oferta para projetar o consumo. Também inclui a geração distribuída, que reflete nos cenários futuros de demanda, explicou Viana.
O estudo projeta que a expansão adicional será feita com 75% de energia solar fotovoltaica, cujo custo de implantação seria de R$ 2,7 milhões por megawatt (MW) e de 25% de energia eólica terrestre (onshore), com custo de R$ 6,8 milhões/MW.
Cenários
Em todos os cenários, a projeção de demanda em 2025 é de 80,44 gigawatts (GW) médios. Para o cenário “trajetória atual”, a demanda cresceria 3,0% ao ano, chegando a 105,41 GW médios, Alexandre Viana conta que o cenário “trajetória atual” implicaria em investimentos que totalizariam R$ 328,4 bilhões, para elevar a capacidade instalada dos atuais 241,61 GW (número projetado para o fim de 2024) para 317,84 GW, sem a implantação de qualquer medida de incentivo à reindustrialização verde.
Caso o cenário “moderado” se concretize, explicou Viana, a demanda por eletricidade apresentaria um crescimento de 4,5% ao ano, para 119,43 GW médios. Para atender a esse consumo, seriam necessários investimentos adicionais de R$ 163,6 bilhões na implantação de 49,79 GW extras, o que resultaria em aportes totais de R$ 492 bilhões entre 2025 e 2034.
Dos R$ 163,6 bilhões projetados como aportes extras, R$ 115,2 bilhões seriam aplicados em novos projetos solares, enquanto outros R$ 48,4 bilhões seriam direcionados para a construção de novas eólicas. “No cenário moderado, seria adotado uma política [de reindustrialização] mais concreta, não muito agressiva”, explicou Viana.
Já no cenário “acelerado”, a taxa anual de crescimento da demanda por eletricidade saltaria para 5,3% ao ano nos próximos dez anos, para até 128,08 GW médios. Neste caso, os investimentos adicionais para a colocação de 86,3 GW chegariam a R$ 275,3 bilhões, elevando o total a ser investido para R$ 603,7 bilhões. “
Dos R$ 275,3 bilhões a serem investidos a mais, R$ 193,9 bilhões seriam destinados para novas usinas solares e outros R$ 81,4 bilhões para eólicas. “O cenário ‘acelerado’ seria uma ‘chuva’ de investimentos para o Brasil, com políticas estruturais; seria o mundo vindo para cá para investir em indústria verde”, salientou.
O estudo, primeiro elaborado pela recém-fundada empresa de consultoria, fundada pelo executivo com passagens pela Thymos Energia e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), indica também que a adoção de medidas de incentivo à industrialização
sustentável pode levar o Brasil ao mesmo nível de consumo per capita de países desenvolvidos. A média dos países que integram o grupo das 20 maiores economias do mundo (G20) é de 5.275 kWh/ano.
Atualmente, o consumo de energia por habitante no Brasil é de 3.200 quilowatts-hora por ano (kWh/ano), mas a adoção de políticas de reindustrialização verde colocaria a média de consumo per capita do Brasil para 4.778 kWh/ano em 2034, pelo cenário “moderado” do estudo. Ou para 5.123 kWh/ano, quando o cenário considerado é o “acelerado”, mais perto da média dos países do G20.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/11/21/reindustrializao-verde-pode-demandar-r-275-bilhes-at-2034-em-energias-renovveis.ghtml