Cerca de 25 empresas, entre elas, Braskem e CBA, já deslocaram ou diminuíram demanda.
Depois de reduzir a vazão em algumas hidrelétricas para poupar água nos reservatórios e pedir para que usinas termelétricas fiquem de prontidão para garantir energia, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) chama os grandes consumidores industriais de energia para reduzirem, de forma voluntária, a demanda por eletricidade durante horários de pico de abastecimento para dar mais
flexibilidade à operação do sistema.
Cerca de 25 empresas intensivas em energia, como , CBA e Gerdau, fizeram ofertas para o ONS para reduzir entre 5 MW e 45 MW de demanda para atendimento da ponta do sistema desde novembro. A ideia é dar um sinal econômico para que empresas que usam muita energia desloquem o processo fabril para outros horários ou reduzam a produção, ajudando a desestressar o sistema.
Essa operação é conhecida como “Resposta da Demanda”. O programa começou em 2017, mas só em 2021, com a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, que ele foi discutido com mais ênfase.
Pelas regras do setor, consumidores manifestam ao ONS o interesse em reduzir a demanda em lotes de 5 MW por no mínimo quatro horas e quanto cobram por essa redução. Se o valor oferecido for inferior ao custo de uma usina termelétrica, o ONS aceita a oferta.
A indústria diz que fez adaptações importantes para atender ao programa e quer participar de uma forma continuada.
Em nota, o ONS informou que entre novembro de 2023 e julho deste ano, o órgão aprovou 185 ofertas, envolvendo cerca de 25 Empresas. Em julho, foi registrado um recorde de horário de Resposta da Demanda com o programa definitivo com o valor de 112 MW. O resultado indica que há demanda e espaço para mais adesão e uso deste recurso na operação.
A energia produzida pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) vem sobretudo de 21 hidrelétricas e soma 1,46 GW de capacidade instalada societária direta ou por meio de consórcios. Segundo o diretor do negócio energia, Daniel Marrocos, a empresa possui geração de energia integrada à fábrica, e tem flexibilidade para modular o seu consumo de energia elétrica, reduzindo-o por períodos específicos, com base no planejamento integrado entre a produção fabril e a geração de energia.
Essa redução é importante ao sistema, já que a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) projeta necessidade adicional de 5,5 gigawatts (GW) de potência no sistema em 2028, provenientes de fontes “despacháveis”, ou seja, aquelas que podem ser acionadas a qualquer momento. Eólica e solar, que dependem de condições climáticas para gerar energia, não são consideradas.
Para Gustavo Checcucci, diretor de energia e descarbonização industrial da Brasken, há capacidade dos consumidores de responder com consumo mais racional e flexibilidade operacional da indústria para adequar sua demanda para fora dos momentos críticos. “A sociedade ganha com este sistema não apenas no aspecto econômico, mas também com a redução das emissões. Este é um produto
que a indústria pleiteou muito.”
O ONS acredita que a tendência é que haja participação cada vez maior dos grandes consumidores.
Ary Pinto, diretor de energia da Ligas Industriais de Alumínio S.A. (Liasa), que produz silício metálico, avalia fazer ofertas ao ONS e participar do programa ainda este ano, já que é eficiente, não demanda investimentos e sem a necessidade de contratos de
longo prazo.
O presidente da Abrace, associação que representa os grandes consumidores livres de energia, Paulo Pedrosa, prevê maior dificuldade de atendimento em outubro, quando a demanda por energia deve subir devido ao aumento das temperaturas, enquanto as chuvas nos reservatórios ainda não começaram.
A entidade sugeriu ao ONS que evite antecipar o despacho de usinas termelétricas de alto custo e priorize o uso do programa de Resposta da Demanda. Pedrosa propõe que a indústria seja remunerada pela disponibilidade para atender picos de consumo, oferecendo uma alternativa mais econômica do que o acionamento de termelétricas.
“Da mesma forma que o sistema paga uma térmica para ficar esperando para ser acionada, o sistema pode pagar muito menos com a redução voluntária de energia pela indústria”, diz.
A sugestão, no entanto, recebeu críticas. Xisto Vieira, presidente da Abraget, associação que representa as termelétricas, argumenta que empresas industriais podem explorar a volatilidade dos preços de energia para lucrar com a demanda energética. Ele acrescenta que, quando uma empresa opta por reduzir seu consumo de energia em vez de manter a produção, isso acaba prejudicando o país.
“Quem pode entrar neste programa é somente consumidor de grande porte. Por que a indústria pode ganhar dinheiro com isso e o seu João e a dona Maria não podem?”, questiona. “O programa Resposta da Demanda significa que, para esta indústria, é mais barato parar a produção e me oferecer ao corte de carga do que produzir um produto. Há algo de errado nisso”, diz Vieira.
Neste contraponto, ele levanta a dúvida se a contribuição da indústria seria suficiente para reduzir o consumo significativamente e garantir o atendimento da demanda energética nos horários de ponta, especialmente entre 17h e 21h, quando a geração solar cai a zero e o consumo residencial permanece elevado.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/08/08/ons-convoca-industrias-para-reduzir-consumo.ghtml