Sócio da empresa e diretor comercial da Begreen- Bioenergia e Fertilizantes Sustentáveis que desenvolve projetos de energias renovável e fertilizantes sustentáveis, Fábio Saldanha assumiu em março passado a diretoria de hidrogênio verde da ABRAPCH.
Como executivo da entidade, Saldanha pretende organizar eventos presenciais e lives a fim de promover a capacitação de empreendedores na produção do novo combustível como alternativa de up grade em seus ativos.
À frente da entidade, ele promete desenvolver a capacitação de mão de obra e de agentes de desenvolvimento por meio de transferência de conhecimento de universidades.
Defensor da fonte hídrica como base para a produção de hidrogênio verde, Saldanha concedeu a seguinte entrevista à Hydro Brasil:
Quais os fatores que tornam viáveis o uso de uma PCH ou UHE na produção de hidrogênio verde?
As PCHs, assim como as demais fontes de energia renovável, são a base de produção de hidrogênio/amônia verde. As PCHs são empreendimentos que possuem garantia física. Portanto permitem uma excelente gestão de custos com energia. Este aspecto é importante, dado que a energia represent entre 65% e 70% dos custos de produção. É importante frisar que o Brasil possui uma forte demanda por fertilizantes nitrogenados e seu consumo está espalhado nacionalmente por todas as regiões. No entanto, o país ainda importa mais de 85% desse tipo de fertilizante. E boa parte das importações dos fertilizantes à base de amônia vem da Rússia e da China, países onde estes insumos são produzidos à base de combustíveis fósseis. Como, no Brasil, as PCHs estão distribuídas por todo o interior, junto a grandes áreas de lavoura, a produção desses dois insumos próxima aos locais de sua aplicação permite, de um lado, uma forte redução nos custos e nas emissões de gases de efeito estufa na cadeia logística global e, de outro, um corte também nas emissões pela energia renovável usada para a sua produção. Na prática, hidrogênio e amônia verdes produzidos no interior do Brasil formam um contraponto importante para a produção tradicional de fertilizantes, a qual responde globalmente por mais de 2% das emissões de gases de feito estufa no planeta.
Haverá necessidade de políticas públicas para incentivar o investimento em PCH para a produção de hidrogênio verde?
Defendemos políticas de estímulo na produção de hidrogênio, amônia e fertilizantes nitrogenados verdes, tanto no âmbito federal quanto no estadual e municipal. Alguns estados e municípios já estão trabalhando nesse sentido, desenvolvendo Programas de Hidrogênio Verde e facilitando a tramitação desses projetos, que não possuem resíduos sólidos, líquidos e gasosos em seu processo produtivo. Também discutem alguns benefícios tributários e linhas de financiamento específicas. O hidrogênio erve de base para a produção em diversas aplicações, entre eles o SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e ARLA 32 (Agente Redutor Líquido Automotivo).
Em tese, qual seria a rentabilidade de uma planta de fertilizantes produzida a partir da autoprodução de energia de uma PCH?
A rentabilidade de uma planta de hidrogênio está diretamente ligada a dois fatores. O primeiro diz respeito à variação do preço de energia, por ser seu principal custo produtivo. Já, o segundo, deve-se à oscilação do preço do produto final no mercado internacional, por se tratar de uma comodity. Desta forma, é muito importante que o desenvolvedor desse tipo de projeto esteja bastante atento às tendências do mercado internacional, antes de iniciar os investimentos. Outro ponto importante a ressaltar é que, como esses projetos demandam um volume de energia significativo, a segurança na conexão de energia também é fundamental, para assegurar a disponibilidade desse insumo.
Você pode distinguir as vantagens e desvantagens das fontes eólica, solar e hídrica na produção de hidrogênio verde?
Como as plantas de hidrogênio e seus derivados funcionam 24 horas, a disponibilidade de energia é fundamental. Os projetos, em geral, receberão energia da rede, de onde os empreendimentos de geração de energia farão os seus respectivos despachos. Cada região tem uma pré-disposição para um tipo de energia em decorrência dos recursos disponíveis. Desta forma, as vantagens de cada fonte estarão associadas à região onde o empreendedor vai querer instalar o seu projeto.
No caso da Begreen, quais os projetos que a empresa vem desenvolvendo para a produção de hidrogênio verde a partir da biomassa e de PCHs?
A Begreen conta hoje com três projetos em desenvolvimento para produção de hidrogênio/amônia verde associados a PCHs e mais um projeto associado a uma termoelétrica à biomassa. Nesse último empreendimento, além desses produtos, produziremos, também, fertilizantes de baixo carbono. Estamos trabalhando conjuntamente com alguns desenvolvedores de PCHs para apoiá-los na viabilização de seus projetos, por meio de investimentos conjuntos, nos quais, além de melhorarmos a remuneração dos investidores via autoprodução, ainda contaremos com a segurança na gestão de custos do nosso principal insumo.