Embora o clima coloque em alerta as autoridades do setor, Sandoval Feitosa ressalta que as grandes hidrelétricas do país, situadas no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, estão com os reservatórios cheios
O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, reconhece que ainda não é possível medir a dimensão dos impactos dos eventos climáticos adversos sobre o setor. Nos últimos dias, uma das maiores hidrelétricas do país — Santo Antônio, com potência de 3,5 mil megawatts (MW), no rio Madeira (RO) — parou de gerar eletricidade em razão do baixo volume de água provocado pela estiagem severa que atinge a região Norte.
De acordo com o diretor da agência reguladora, os órgãos do setor elétrico precisam acompanhar de perto os efeitos da mudança climática sobre o país para avaliar se será preciso tomar alguma “medida excepcional”.
“Não é possível prever a extensão dos impactos desse fenômeno climático. É uma situação adversa. Diria que estruturalmente o setor estava preparado para a condição anterior”, disse o diretor da Aneel, ao Valor. “Hoje, temos uma condição diferente. O que precisa ser visto é até que ponto precisaremos de medidas excepcionais para fazer frente ao momento atual”, complementou.
Embora os eventos climáticos coloquem em alerta as autoridades do setor, Feitosa ressalta que as grandes hidrelétricas do país, situadas no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, estão com os reservatórios cheios neste momento. “Estamos saindo do período seco e iniciando o perímetro úmido [chuvoso], em que não sabemos ainda o quão generoso ele será. Mas temos um nível de reservatório em torno de 67%, que consideramos confortável”, afirmou, momentos antes de participar da reunião de hoje do
CMSE.
A parada das máquinas de Santo Antônio e a situação das hidrelétricas do Amapá, também afetadas pela baixa vazão dos rios do Estado, está entre os temas a serem abordados na reunião, programada para a tarde de hoje, do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). O encontro entre as principais autoridades do setor é realizado, em caráter ordinário, sempre no início de cada mês em Brasília, na sede do Ministério de Minas e Energia.
De acordo com Feitosa, a situação da usina de Santo Antônio, envolvendo a possibilidade de acionamento de térmicas em Rondônia, é um “problema pontual” identificado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) que deve ser levado ao CMSE para que “decisões técnicas” sejam tomadas. Ele disse que o papel da Aneel, nesse caso, é opinar sobre a decisão no comitê e, depois,
fiscalizar a implementação de eventuais medidas.
Intensificado o debate sobre mudanças climáticas, as autoridades brasileiras são cobradas a garantir maior incremento de fontes renováveis à matriz de geração de energia do país. O Brasil tem posição de destaque, dada a grande oferta por hidrelétricas e boom de investimento nos segmentos de geração eólica e fotovoltaica (solar) no Nordeste.
Diante dos recentes eventos climáticos adversos, o governo federal e a agência reguladora estão sendo desafiados a dar, agora, respostas mais contundentes sobre os riscos à confiabilidade do suprimento de energia.
“Temos uma situação climática muito adversa, típica dos momentos de imprevisibilidade que estamos vivendo em função do aquecimento global e outras questões de clima. Temos hoje, por exemplo, na região Norte do país uma seca e, na região Sul, enchentes”, disse Feitosa, ao citar algumas das situações enfrentadas pelo país cujos efeitos ainda não podem ser medidos.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/10/04/nao-e-possivel-prever-extensao-de-fenomenos-climaticos-sobre-o-setor-diz-diretor-geral-da-aneel.ghtml