Fontes de energia eólica e solar devem passar a responder em 2027 por mais de 37% da capacidade de geração instalada do Sistema Interligado Nacional.
Até 2027, a participação das fontes eólica e solar fotovoltaica na geração do Sistema Interligado Nacional (SIN) deverá alcançar algo em torno de 37,1%, na estimativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), previsão que inclui micro e minigeração distribuída. Em setembro, acrescenta o ONS, a contribuição dessas duas fontes para a geração em todo o sistema atingiu 28,4%, resultado de uma curva acelerada de crescimento observada desde o começo da década.
Esse avanço tem contribuído para a segurança do sistema, assim como para a descarbonização da matriz elétrica. Entre janeiro e julho deste ano, segundo o operador, 90% da energia gerada no país foi de fontes renováveis, como a hidráulica, eólica e solar, sugerindo que o setor elétrico brasileiro já fez sua transição para um modelo de baixas emissões.
No fim da segunda semana de setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrava uma participação na matriz elétrica de 13,8% para os parques eólicos, com potência instalada de 26.990 megawatts (MW), enquanto as plantas solares detinham fatia de 5,33% e capacidade em torno de 10.437 MW, sem incluir a geração descentralizada, instalada em telhados e fachadas de empresas e residências. Somando a geração distribuída, haveria um acréscimo de 23.660 MW à potência da fonte solar, elevando sua capacidade final para 34.097 MW, equivalente a 17,4% da matriz elétrica.
Resultado de mudanças regulatórias e de conquistas tecnológicas recentes, que reduziram os custos dos equipamentos e da energia gerada, o setor solar fotovoltaico experimentou um “ano histórico” em 2022, diz Rodrigo Sauaia, presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). O país apresentou o quarto maior crescimento global em capacidade adicionada ao sistema, saindo de 14.367 MW em 2021 para 25.373 MW, um salto de 76,6%. O aumento levou o Brasil, diz ele, a ocupar o posto de décimo maior produtor de energia solar no mundo.
O setor espera acrescentar pelo menos mais 10 gigawatts (GW) de capacidade nova ao longo deste ano, afirma Sauaia, o que elevaria a potência total acima de 35 GW, com investimentos próximos a R$ 50 bilhões. Caso a expectativa se confirme, a geração solar terá multiplicado sua potência instalada em pouco mais de 7,4 vezes desde 2019. “Cada GW instalado corresponde a mais de 30 mil empregos novos”, diz Sauaia, acrescentando que o setor atingiu neste ano a marca de 1 milhão de empregos criados desde 2012 e investiu, no período, mais de R$ 163 bilhões.
A partir de 2021, afirma Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a indústria de geração eólica passou a “bater recordes”, apresentando um incremento anual de 4 GW em sua potência instalada, numa variação superior à média histórica do setor. A estimativa para este ano prevê a instalação de mais 3.571 MW de potência nova, elevando a capacidade total para 29.221 MW, aumento de 64,65% ante 2020.
A abertura do mercado livre para as novas formas de energia, como a eólica, os investimentos das empresas em iniciativas ESG, especialmente em setores eletrointensivos, e a queda vertical nos custos da geração eólica, avalia Gannoum, ajudam a entender os avanços. “A tendência para os próximos anos é de uma aceleração mais intensa, associada à demanda por uma economia de baixo carbono e pela chegada do hidrogênio verde por volta de 2026 ou 2027.”
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com base nos estudos do Plano Decenal de Energia 2031 divulgado no primeiro
semestre do ano passado, a capacidade instalada das fontes eólica e solar, incluindo a parcela da geração distribuída, deverá superar 77,5 GW até lá. Para o sócio-diretor da A&M Infra, Filipe Bonaldo, a geração solar e eólica tende a crescer de “forma natural” nos próximos anos diante do barateamento da energia nas duas áreas e, “agora, com o uso combinado de baterias que reduzem a intermitência daquelas fontes”. Em sua estimativa, os dois setores combinados têm colocado “no sistema mais de 1 GW por mês e espera-se que esse número esteja próximo do dobro disso nos próximos anos”.
Em sua estratégia para ganhar musculatura e acelerar o crescimento, a Casa dos Ventos, na descrição de Lucas Araripe, diretor-executivo da empresa, tem firmado contratos de venda de energia (PPA, ou Purchase Power Agreement) com grandes consumidores e finalizou em janeiro deste ano a venda de 34% de seus ativos operacionais e dos projetos de geração eólica em estágios mais avançados de desenvolvimento para a TotalEnergies. Com três complexos eólicos em operação – Rio do Vento (RN),
Babilônia Sul (BA) e Folha Larga do Sul (BA) –, a Casa dos Ventos atingiu neste ano capacidade operacional de 1.549,2 MW.
Mas deve quase triplicar sua potência instalada até o fim de 2025, para cerca de 4,1 GW, diz Araripe. O complexo de Umari, também no Rio Grande do Norte, com capacidade prevista para 202,5 MW, deve ser finalizado na primeira metade de 2024, alavancado por contratos de fornecimento de longo prazo firmados com a Mosaic e a Braskem. A unidade Babilônia Centro, na Bahia, deve acrescentar 553,5 MW à capacidade de geração da empresa, num investimento de R$ 4 bilhões a ser tocado em conjunto com a ArcelorMittal, que responderá por 55% do projeto.
A Casa dos Ventos investirá R$ 5 bilhões para tornar operacional até o segundo semestre de 2025 o complexo de Serra do Tigre, com capacidade para 756 MW. Dois projetos de geração solar, com capacidade total para 1 GW, completam os planos da Casa dos Ventos, que programa ainda a instalação de uma planta de hidrogênio e amônia verde no porto de Pecém (CE), em conjunto com a Comerc Eficiência e o consórcio holandês TransHydrogen Alliance (THA).
Apenas em 2022, diz Bruno Riga, responsável pela Enel Green Power (EGP) no Brasil, a geração de energia eólica e solar da empresa teve crescimento de 42% em relação a 2021. Considerando apenas aquelas duas fontes, a capacidade instalada da empresa aproxima-se de 3,7 GW, dos quais 2,5 GW providos pelos parques eólicos. No ano passado, a EGP iniciou a implantação do Complexo Eólico Aroeira, na Bahia, e neste ano colocou em operação a segunda expansão do complexo fotovoltaico de São Gonçalo, no Piauí, elevando sua capacidade para 864 MW. Além disso, o complexo eólico de Lagoa dos Ventos (PI) receberá nova ampliação, chegando a 1,5 GW.
O Complexo Solar Milagres, em Abaiara, no Ceará, deverá entrar em operação em 2024, marcando a estreia no Brasil da Lightsource bp, joint-venture formada em 2018 com a petroleira British Petroleum. Com potência para gerar 212 megawatts pico (MWp), suficiente para abastecer 200 mil residências, segundo Ricardo Barros, country manager da empresa no Brasil, o complexo receberá investimento superior a R$ 800 milhões.
Até o fim deste ano, o grupo Nordex, que investiu em torno de 20 milhões de euros no Brasil nos últimos três anos, deverá entregar seu milésimo aerogerador no país, atingindo capacidade instalada de 4 GW, diz Felipe Ramalho, diretor-presidente no Brasil. Atualmente, a empresa de capital alemão participa como fornecedora de sistemas de aerogeração de três projetos, envolvendo a instalação de parques de geração eólica na Bahia, a cargo da norueguesa Statkraft; no Piauí, no projeto Lagoa dos Ventos V, da Enel Green Power; e no Rio Grande do Norte, da AES Brasil. Somados, os três projetos demandarão 204 turbinas com capacidade de 1.163 MW.
Com atuação originalmente no mercado de gás natural, a Karpowership decidiu diversificar seu portfólio e investir pouco mais de R$ 10 milhões, em parceria com a Natural Energia, para instalar em Itaguaí, no Rio de Janeiro, uma planta solar com capacidade para 1,5 MW. “Estamos em fase de escolha dos fornecedores de equipamentos”, afirma Gilberto Bueno, country manager da empresa turca no Brasil. A expectativa é de que a unidade esteja concluída em seis meses.
Com 70% das obras concluídas, o Parque Eólico Novo Horizonte, na Bahia, finalizou em setembro a montagem das 94 turbinas previstas e deve entrar em operação no primeiro trimestre do próximo ano, diz Alejandro Catalano Dupuy, diretor-geral da Pan American Energy (PAE) no Brasil. Primeiro ativo da empresa argentina no país, o complexo abrigará dez parques espalhados entre seis municípios baianos, somando uma capacidade total de 423 MW. O investimento de R$ 3 bilhões, em parte financiado com recursos de R$ 1,2 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Nordeste, contempla uma subestação própria e 79 km de linhas de transmissão.
O projeto de geração distribuída da Vivo, afirma Caio Guimarães, diretor de patrimônio, logística e compras da operadora, envolve parcerias com players diversos para a instalação de 85 usinas em todas as regiões brasileiras, sendo 61% delas de fonte solar, 27% de fonte hídrica e 12% de biogás, que juntas produzirão mais de 711 mil megawatts/hora/ano. A energia gerada vai abastecer mais de 30 mil pontos da Vivo, representando 90% do consumo em baixa tensão da empresa.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/revista-infraestrutura-e-logistica/noticia/2023/09/29/matriz-energetica-fica-cada-vez-mais-limpa.ghtml