Pesquisa da consultoria Capgemini aponta que 7 em 10 organizações concordam que os modelos sustentáveis de negócios orientados digitalmente se tornarão fundamentais para o crescimento das receitas em até cinco anos.
acesso à internet, de um lado, e a obrigação das empresas se tornarem mais sustentáveis devido à crise climática, de outro. A preparação para esse cenário foi tema de uma pesquisa global da consultoria Capgemini, que explorou a necessidade de uma transição “ecodigital”, na qual as duas mudanças sejam interligadas para terem sucesso.
A maioria das organizações (77%) concorda com a afirmação de que estamos vivenciando uma transição dupla para um ambiente digital mais sustentável. A tecnologia poderá facilitar a busca por novas soluções, em meio a uma demanda crescente da sociedade por responsabilidade ambiental para evitar o agravamento da crise climática.
Segundo o relatório da Capgemini, 7 em 10 organizações concordam que os modelos de negócios orientados digitalmente se tornarão um contribuidor chave para o crescimento das receitas nos próximos três a cinco anos, e 60% esperam que esses modelos digitais gerem mais receita do que seus modelos de negócios tradicionais.
Além disso, 60% das organizações expressam confiança no potencial da tecnologia para acelerar a realização de metas de sustentabilidade, levando a um aumento do investimento em soluções digitais pelo seu impacto na sustentabilidade.
Para Emanuel Queiroz, vice-presidente de desenvolvimento sustentável da Capgemini Brasil, deixar de participar dessa transição não será uma escolha viável. “Existe uma questão de obrigatoriedade. Há uma grande oportunidade de um mercado que se mostra muito rentável não só para a questão digital”, diz.
Nesse contexto, novos modelos de negócios são necessários. Entre os exemplos, então a Airbus, fabricante de aviões, que utiliza a inteligência artificial para redesenhar a esteira de produção e criar aeronaves que passem a contar com peças mais leves e precisem de menos combustível, gerando menos emissões. Outros modelos são os gerados a partir da economia circular, que visa produzir bens já pensando em reutilizá-los ou reciclá-los após o término da vida útil.
“É importante o equilíbrio entre os dois pontos, se não a digitalização passa a ser mais um vilão na questão das emissões. Não existe uma transição digital sem pensar no impacto à sociedade, e não existe uma transição ambiental sem pensar no uso da tecnologia”, resume o executivo da Capgemini.
A pesquisa foi feita com 1.500 executivos seniores de organizações globais com receita anual acima de US$ 1 bilhão e startups com capitalização de mercado superior a US$ 1 bilhão. Os países pesquisados foram: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Países Baixos, Cingapura, Índia, Canadá, Espanha, Itália, Austrália, Noruega e Suécia. Também foram feitas pesquisas qualitativas.
O Brasil e a América Latina ficaram de fora do estudo porque o foco está nos países mais desenvolvidos, com mais recursos para tomar ações. Mas, conforme Queiroz, o cenário brasileiro não é muito diferente, já que está intimamente ligado ao global por meio do comércio exterior.
“As regras cruzam fronteiras por meio das legislações. Empresas de fora da União Europeia não podem importar de países que não sigam regulamentações de desmatamento, saúde e segurança, por exemplo”, afirma. Uma vantagem das empresas brasileiras é a matriz energética do País, primariamente limpa por ser gerada em hidrelétricas.
No entanto, também é preciso ficar atento, já que a transição digital pode acelerar tanto a regeneração do meio ambiente quanto a destruição, por meio da demanda maior por energia e por minerais como cobalto e lítio, cuja mineração não é simples, além do descarte de objetos antigos.
Efeitos
O estudo da Capgemini estima que a economia, impulsionada pelo digital e pela sustentabilidade, deverá duplicar até 2028, o que demonstra que o potencial inexplorado do ambiente ecodigital é vasto. “(A transformação) vai acelerar o desenvolvimento da economia, atrelar o pilar econômico do desenvolvimento ao social e ao ambiental”, projeta Queiroz.
Um ponto passível de atenção é garantir que os benefícios não fiquem restritos a poucas pessoas, normalmente moradores de grandes centros comerciais e urbanos. Para isso, o fornecimento de energia elétrica para todos, até os menores rincões, é necessário (desde que gerada a partir de fontes renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica).
A energia será necessária para garantir a coleta de dados digitais que orientem ações e mais acertadas, nos negócios e para o meio ambiente, com o uso da inteligência artificial. “Ela permitirá um processo produtivo mais eficiente, produtos que emitem menos, e a energia acaba sendo mais barata”, diz o vice-presidente da Capgemini Brasil. O relatório estima que a redução das emissões globais de gases de efeito estufa através do uso de tecnologias digitais até 2028 superará o aumento esperado das emissões atribuídas ao digital.
Alguns setores da indústria que encontram maior dificuldade para ter acesso à informação, em locais com pouca conexão, podem sofrer na transição ecodigital. Os principais exemplos são grandes segmentos na indústria de extração, de base, que podem ficar sem acesso aos dados.
Força de trabalho
A adaptação da força de trabalho também precisará de atenção, garantindo ao mesmo tempo que os trabalhadores estejam prontos para fazer parte da transição e que a diversidade esteja presente nas empresas, em todos os níveis. Segundo o estudo, quase 40% da força de trabalho total deverá ser dedicada a iniciativas digitais nos próximos 3 a 5 anos, e 64% das organizações já estão investindo na requalificação das suas forças de trabalho existentes, o que aponta para uma necessidade de estruturas flexíveis que permitam uma evolução rápida.
“Educação e criação de cultura são temas mandatórios. Na questão da tecnologia, as pessoas precisam ter acesso aos dados para terem uma visão abrangente deles e saibam que tipo de informações eles podem gerar para tomar decisões”, menciona Queiroz.
A jornada em busca da dupla transformação se tornará cada vez mais necessária. “É uma questão de sobrevivência, participar da transformação ou ficar de fora”, reforça Queiroz. A escolha será fazer parte da transição ecodigital ou não se relacionar com grandes empresas ou grandes economias de outros países. Por isso, fazer parcerias com outras companhias e organizações e formar “ecossistemas” é outra atitude interessante.
O relatório faz cinco recomendações para as empresas aproveitarem as oportunidades. Confira:
Identificar eficiências em toda a empresa para impulsionar a redução de custos.
Focar em obter uma combinação bem equilibrada de recursos de curto e médio prazo, apoiados por objetivos de negócios claros.
Reinvestir o total economizado em transformação digital, a fim de maximizar os benefícios.
Incorporar sustentabilidade e métricas de desempenho acessíveis no ciclo de vida de produtos e serviços.
Explorar o ecossistema da indústria e dos fornecedores para acelerar melhorias.
Por Estadão.
https://www.estadao.com.br/economia/negocios/empresas-transicao-ecodigital-pesquisa/