Plano de expansão para próximos anos inclui dois certames em 2024, com aportes de R$ 24,7 bi.
Os investimentos em novas linhas de transmissão podem atingir R$ 56,2 bilhões nos próximos anos. As estimativas estão no Programa de Expansão da Transmissão (PET) e no Plano de Expansão de Longo Prazo (PELP) relativo ao segundo semestre de 2023, conforme estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Desse total, R$ 24,7 bilhões são investimentos em ativos que serão negociados nos dois leilões de linhas de transmissão previstos para este ano, que ocorrem em março e setembro.
Os objetivos dos novos projetos são aumentar a margem de escoamento da geração renovável para os centros consumidores, melhorar o atendimento regional nos Estados, melhorar a confiabilidade no fornecimento de energia para determinadas regiões do país e trazer soluções para sobrecarga.
Ao Valor, o presidente da EPE, Thiago Prado, disse que, junto com a agência reguladora (Aneel) e o Ministério de Minas e Energia (MME), vem trabalhando a garantia de financiamento para os projetos com o BNDES, além de avaliar a capacidade do setor industrial em atender a demanda que surgirá com os novos projetos.
Só no ano passado foram contratados R$ 37,5 bilhões em projetos, que visam principalmente ampliar a capacidade de transmissão da energia eólica e solar gerada no Nordeste para os centros de consumo do Sudeste e Sul. Os certames de 2024 seguem uma lógica parecida, enquanto para o futuro o olhar do setor vai se virar mais para o Norte.
“Os investimentos estão bem distribuídos entre Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Sul, entre R$ 15 bilhões e R$ 18 bilhões entre as regiões, o que mostra que a distribuição das obras está equalizada nesta questão de demanda e oferta. Para a região Norte, encaminhamos uma proposta para o MME de um plano de trabalho dos estudos de transmissão e a ideia é avançar nas interligações de Manaus e Boa Vista para aumentar a confiabilidade”, disse.
Prado acrescenta que a implementação de um novo circuito na região Norte resultará na diminuição da geração térmica local, com a perspectiva grande de redução da tarifa. Em virtude disso, ele antecipa que, no próximo ciclo de planejamento, a região Norte deverá receber mais investimentos. Devido à sensibilidade ambiental das áreas em questão, os estudos estão sendo discutidos em colaboração com o Ibama.
O estudo contempla uma nova linha de corrente contínua de alta tensão (HVDC, na sigla em inglês) que ligará o Nordeste ao Sul. O relatório deverá ser concluído em outubro, mas a perspectiva é que o leilão seja realizado e 2025 ou 2026, segundo ele, com previsão de operar em 72 meses.
“Outro ponto é a integração de plantas de hidrogênio. São unidades muito grandes, que usando a eletrólise consomem 2 gigawatts (GW). Temos uma base de dados de projetos de hidrogênio e na região Nordeste os registros somam 30 GW”, destaca.
Apesar dos números superlativos, ele destaca que é preciso ter cautela, já que os projetos não saem do papel sem os contratos de longo prazo (PPAs, na sigla em inglês). Prado acredita que os futuros certames permanecerão aquecidos e com tendência de muita concorrência e fortes deságios.
Isso ocorre porque as concessões de transmissão são consideradas as mais seguras do setor elétrico: é um mercado totalmente regulado, em que o vencedor ganha um contrato de 30 anos indexado ao IPCA e sem risco de inadimplência. O empreendedor que conseguir antecipar as obras ganha ainda uma Receita Anual Permitida (RAP) extra.
O sócio-diretor de Energia e Infraestrutura da consultoria alemã Roland Berger, Georges Almeida, lembra que o setor aumentou cerca de 80% sua capacidade na última década com leilões que têm surpreendido pela constância, competitividade, fortes deságios e grandes “players” com capacidade de investimento. Para ele, o anúncio de mais investimentos para reforçar e aumentar a capacidade é conjunturalmente um sinal positivo, porque é indispensável no curto prazo.
Por outro lado, há ainda espaço para aumentar a redundância e caminhos alternativos em caso de falha nos pontos críticos. “Por isso, se pensarmos de maneira estrutural, achar que a construção de mais linhas de transmissão é a panaceia para trazer para zero as chances de grandes blecautes é no mínimo questionável”, afirma.
O ex-diretor da Aneel, Edvaldo Santana, diz que o setor de transmissão deve ganhar protagonismo no setor elétrico. Contudo, ele chama atenção para o Leilão de Reserva de Capacidade, um mecanismo utilizado para assegurar que haja capacidade de geração suficiente para atender a demanda dos consumidores em momentos de forte alta de consumo em pouco espaço de tempo.
“Usinas que possam agregar energia rapidamente, sobretudo nos horários entre às 14h e 18h, quando aumenta a carga e, após às 16h, quando a energia solar para de gerar. Ou seja, não para agregar energia ao sistema, mas dar segurança e confiabilidade”, explica.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/01/11/leiloes-de-transmissao-podem-atingir-r-56-bi.ghtml