Último do ano, processo deve atrair grandes grupos como Eletrobras e Engie, além do banco BTG, por meio do fundo Warehouse.
O último leilão de transmissão de energia do ano, marcado para amanhã (27) na B3, deve atrair investimentos da ordem de R$ 3,35 bilhões para construção e operação de 783 quilômetros de linhas e subestações, divididos em três lotes, abrangendo seis Estados.
Embora pequeno em relação às licitações realizadas nos últimos dois anos, que tiveram aportes entre R$ 12 bilhões e R$ 22 bilhões, a expectativa é de ampla concorrência, com todos os lotes arrematados.
O valor total da Receita Anual Permitida (RAP máxima) a ser paga às empresas vitoriosas é de R$ 553 milhões, mas o setor espera que ocorram fortes descontos, que podem oscilar entre 40% e 50%.
Inicialmente, estavam previstos quatro lotes para serem leiloados, mas depois da tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul, o Ministério de Minas e Energia (MME) pediu a retirada do Lote 2, para fazer uma reavaliação dos traçados das linhas no Estado.
A expectativa está sobre o BTG e a Eletrobras, grandes vencedores do leilão que ocorreu em março. O banco, por meio do fundo Warehouse, tem sido agressivo nos lances e desbancado tradicionais empresas do setor. Já a transmissora brasileira é a
maior operadora de linhas de transmissão do país, e é competitiva no certame desta sexta-feira pelo conhecimento do setor e capilaridade pelo Brasil.
“Estamos avaliando todos os lotes e a decisão de participar ou não é tomada até o último momento, sempre com foco na geração de valor para a companhia e disciplina de capital. Mas a Eletrobras quer ter uma participação robusta nos leilões”, diz o diretor de negócios de transmissão da companhia, Fernando Cardozo.
A Copel é outra empresa aguardada no evento, já que concluiu todo seu processo de privatização e desinvestimentos não estratégicos e pode voltar a avaliar oportunidades, como no Lote 1, com projetos no Paraná e em Santa Catarina.
O diretor-presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, diz que a companhia quer fortalecer a posição no setor de transmissão e entrar neste leilão com uma postura competitiva. “É necessário, também, termos uma visão de atualização do processo, levando em conta fatores como as mudanças climáticas e seus potenciais efeitos na análise de projeto, construção, cronograma das obras, bem como operação dos sistemas.”
Por outro lado, o certame terá baixas relevantes. A Auren desistiu do leilão para focar na integração da AES Brasil. A Isa Cteep afirma que a desistência se deve à disciplina financeira para se concentrar no plano de investimento de R$ 15 bilhões até 2028. Já
para a Neoenergia, os lotes ofertados são considerados pequenos, para cujos perfis a empresa não é competitiva, sendo mais atrativa para construtoras e empreiteiras que atuam no segmento.
O lote 1 tem uma característica peculiar, pois dentro dele foi incluído um empreendimento existente em fim de concessão. Trata-se de uma Interligação Elétrica Evrecy, uma infraestrutura de 163 quilômetros de linhas entre Minas Gerais e Espírito Santo, que era da EDP, mas foi vendida no mercado secundário para a Isa Cteep.
Para o especialista no setor de transmissão de energia Rogério Camargo, neste lote, os investidores deverão analisar pontos importantes, como curva de opex (investimento operacional), condições operacionais dos equipamentos, indicadores de indisponibilidade, passivos ambientais, defeitos ocultos nos equipamentos primários como transformadores de força, entre outros.
“Diante da disputa cada vez mais acirrada nos leilões de transmissão, este cenário está forçando os investidores a buscar estratégias de gestão dos projetos e formas de contratação que fogem do convencional EPC “turn key” [tipo de contrato para a
construção de projetos], gerando maior exposição ao risco e, por consequência, maior dificuldade para a contratação de garantias e busca de financiamentos. Contudo, acredito que será uma tendência a partir de agora”, diz Camargo.
Ao passo que o leilão desperta o interesse de grandes grupos econômicos, o elevado custo de capital, a alta demanda por equipamentos e a falta de construtoras ou consórcios especializados na execução de projetos (epecistas) são indicativos de que
os vencedores serão pressionados.
O acionista e presidente do conselho de administração da Nova Participações, José Antunes Sobrinho, alerta que os fortes deságios podem prejudicar a sustentabilidade dos projetos com margens muito apertadas.
“O mercado anda estressado com risco em linhas muito longas, que exigem planejamento, conhecimento de fundações e passagens de servidões [entrada em propriedades privadas para a instalação de infraestrutura] e vários canteiros de obras intermediários ao longo do percurso”, diz.
Estima-se que quase um terço do capex (investimento) estimado do certame fique com as empresas fabricantes de equipamentos. Contudo, a pressão para atender o mercado ocorre pelo alto volume de pedidos nos últimos anos. A WEG fez um aporte de R$ 1,2 bilhão na expansão da capacidade de produção de transformadores. A japonesa Hitachi Energy seguiu o mesmo caminho e, mais
recentemente, anunciou investimentos de cerca de US$ 200 milhões para aumento de capacidade.
O vice-presidente da Siemens Energy para América Latina, André Clark, explica que, diante do forte incremento de fontes intermitentes no sistema, como eólica e solar, o Brasil precisa se atentar às mudanças de tecnologias para se adaptar a esta nova
realidade.
“A gente acredita que para os próximos leilões, a tecnologia HVDC [transmissão de grandes blocos de energia a longas distâncias] deve mudar e já é mais flexível e criada para este contexto de expansão de energias renováveis e disponível por vários fabricantes.”
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/09/26/leilao-de-transmissao-preve-r-33-bi-em-investimentos.ghtml