Empresas chinesas são responsáveis pelos maiores projetos no Brasil nos últimos anos e avançam em usinas a partir de fontes renováveis.
O setor de energia é o carro-chefe dos investimentos chineses no Brasil, e recentes movimentações indicam que há uma nova agenda direcionando os recursos nesta década, com foco em carros elétricos e metais raros, duas variáveis que ganham importância com a transição energética. Entre 2007 e 2022, empresas chinesas investiram US$ 71,6 bilhões no Brasil, com o setor de eletricidade absorvendo 45,5% do volume aplicado, seguido pelas áreas de extração de petróleo (30,4%), conforme os dados mais recentes do Conselho Empresarial Brasil-China.
As áreas de geração, transmissão e distribuição de eletricidade receberam US$ 32,5 bilhões do total de recursos vindos do país asiático entre 2007 e 2022. Três estatais centrais chinesas – State Grid, China Three Gorges e State Power Investment Corporation (SPIC) – foram as responsáveis pelos maiores projetos no Brasil. Recentes anúncios apontam que o setor de eletricidade continuará impulsionando os investimentos chineses por aqui.
Em dezembro, o governo federal realizou o maior leilão de transmissão de energia da história. Foram leiloados R$ 21,7 bilhões em linhas de transmissão com a licitação de 4.471 km que irão passar pelos Estados de Goiás, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins. A grande vencedora foi a State Grid, que arrematou o maior lote já licitado em termos de previsão de investimento: o valor esperado é de R$ 18,1 bilhões.
Esse lote é composto por linhas de transmissão em ultra-alta tensão corrente contínua (UATCC), com extensão de 1.513 quilômetros e localizadas nos Estados do Maranhão, Tocantins e Goiás. Ainda inclui a construção das subestações. As obras visam a aumentar a capacidade de interligação entre as regiões Nordeste e Centro-Oeste para escoamento dos excedentes de energia gerada na região Nordeste. O prazo para a conclusão do empreendimento é de 72 meses.
A tecnologia de UATCC vem sendo liderada no mundo pelos chineses, que têm investido em transmissão para escoar a energia de renováveis no país. Na década passada, a State Grid encabeçou a montagem da primeira linha do tipo, que escoa a energia da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará (11.233 MW), aos grandes centros brasileiros de consumo de energia.
O Brasil poderá ainda licitar mais uma linha de transmissão de ultratensão até 2026. O avanço das fontes renováveis variáveis, com usinas solares e eólicas, tem levado ao aumento de expansão de linhas de transmissão. No leilão de dezembro, o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Thiago Prado, disse que o governo estuda um novo leilão para a construção de um segundo bipolo de transmissão que escoe energia do Nordeste para o Sudeste. “Esse leilão poderia ser para 2025 ou 2026, mas está em estudo, assim como a tecnologia que pode ser empregada”, afirmou o presidente da EPE, órgão estatal de planejamento.
Em geração, as companhias estão olhando a diversificação da matriz e a abertura do mercado livre de energia. Desde janeiro, todas as indústrias ligadas à alta tensão têm a possibilidade de migrar para o mercado livre. Isso poderá fazer com que a fatia destinada ao segmento pule de 39% da carga do país para 48%, de acordo com dados das comercializadoras, o que mostra o potencial de negócios.
Com presença de dez anos no Brasil, desde 2013, a CTG iniciou investimentos no país a partir da aquisição de participação acionária em três hidrelétricas da EDP no país: Santo Antônio do Jari e Cachoeira Caldeirão, no Amapá, e São Manoel, no Mato Grosso. Em 2016, adquiriu as idrelétricas da Duke Energy, se tornando um dos principais players privados de geração.
Gradualmente, com a mudança da matriz elétrica brasileira devido ao avanço das fontes eólica e solar, a CTG também começou a investir em renováveis, buscando diversificação em um momento em que o setor elétrico começa a assistir à maior abertura de sua história. A empresa trabalha em dois grandes projetos: Complexo Eólico Serra da Palmeira, na Paraíba, com 648 MW, e o Complexo Solar Arinos, em Minas Gerais, com 410 MWp.
Com ativos que somam mais de 3 GW no Brasil, a SPIC também tem diversificado sua operação no Brasil. A companhia opera a usina hidrelétrica São Simão, na divisa de Minas Gerais e Goiás, e dois parques eólicos e detém participação no maior complexo de gás natural da América Latina, o GNA (Gás Natural Açu), localizado em São João da Barra (RJ).
Em dezembro, a empresa anunciou a conclusão de emissão de notas comerciais no montante de R$ 1,3 bilhão, recursos que serão direcionados para a conclusão dos seus primeiros parques de energia solar no Brasil: os complexos solares de Panati, na cidade de Jaguaretama (CE), e de Marangatu, em Brasileira (PI). Juntos, eles totalizam 738 MWp de capacidade instalada e representam a entrada da companhia na geração de energia de fonte solar no Brasil. Atualmente, os projetos da companhia se encontram em fase final das obras, com início das operações previsto para o primeiro semestre de 2024.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brazilchinameeting/noticia/2024/01/23/geracao-transmissao-e-distribuicao-lideram-investimentos-no-pais-sembarreira.ghtml