Do total de projetos desenvolvidos por investidores chineses no Brasil, 72% são das áreas de energias renováveis e sustentabilidade.
Empresas chinesas do setor de energia têm o Brasil como destino seguro para avançar na transição para uma economia de baixo carbono, em que fontes renováveis são essenciais. São geradoras, transmissoras e fornecedores de equipamentos que ganham força no país desde 2010, com a aquisição de ativos de produção hidrelétrica, solar e eólica, além de concessões de redes de transmissão.
“A China, por muito tempo, investiu no setor elétrico em seu próprio território. Um exemplo é a hidrelétrica Três Gargantas [a maior do mundo em capacidade instalada]. Mas as empresas cresceram tanto que a China ficou pequena para elas”, afirma o diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Tulio Cariello.
Hoje, do total de projetos desenvolvidos por investidores chineses no Brasil, 72% são das áreas de energias renováveis e sustentabilidade.
Os negócios possuem duas bases. De um lado está o retorno financeiro de projetos de longo prazo liderados, principalmente, pelas estatais State Grid, China Three Gorges (CTG) e State Power Investment Corporation (Spic). De forma paralela, há um programa de governo.
A estratégia chinesa é progredir em áreas definidas como essenciais no plano de desenvolvimento de Pequim, focado na redução das emissões de gases de efeito estufa. A área de energia verde está entre elas. A meta é alcançar a neutralidade de carbono em 2060, mas, por enquanto, o país asiático ainda depende da geração térmica a carvão e ocupa o posto de maior poluidor do mundo.
“A busca por uma matriz mais limpa precisa ser exportada, até para criar uma nova imagem de que o país está trabalhando para reverter o quadro. Não tem como as empresas pensarem no combate à mudança climática apenas internamente”, ressalta Cariello.
O Brasil, nesse sentido, é um bom mercado – sua matriz energética é a mais limpa do G20 e também possui água doce e reservas de minerais críticos, insumo de equipamentos de geração renovável.
Adriana Waltrick, CEO da Spic Brasil, diz que em poucos lugares do mundo é possível encontrar condições mais favoráveis para o desenvolvimento das novas fronteiras de geração de energia. Seguido pelo México e Chile, o Brasil é o maior mercado da
Spic fora da China, tendo recebido R$ 14 bilhões de investimento em sete anos de operações.
A Spic está à frente da Usina Hidrelétrica de São Simão, na divisa de Minas Gerais e Goiás, desde 2018. Os complexos solares Panati, no Ceará, e Marangatu, no Piauí, começaram a funcionar no primeiro semestre deste ano. Ainda em novembro, será
iniciada a produção no complexo solar Luiz Gonzaga, em Pernambuco. E, desde 2017, a empresa opera os parques eólicos Millennium e Vale dos Ventos, na Paraíba. Novos projetos nos segmentos solar e eólico ainda devem ser anunciados neste ano.
“Um dos principais desafios ao contínuo desenvolvimento das energias renováveis intermitentes, como solar e eólica, não só no Brasil, é o ‘curtailment’. Vemos a necessidade de rápida governança setorial para organizar as regras que muitas vezes não oneram os causadores”, salienta Waltrick. “Curtailment” é o corte forçado ou redução da geração de energia, especialmente em fontes renováveis, nos períodos em que aprodução supera a capacidade de consumo ou de transmissão do sistema.
Juntamente com as geradoras e transmissoras, produtores de equipamentos se instalam no Brasil. Muitas dessas empresas já são grandes fornecedoras mundiais de tecnologia de ponta na área de renováveis.
O país asiático tem participação crescente na cadeia mundial de suprimentos para energia limpa. A China domina, por exemplo, o fornecimento global de painéis solares e turbinas eólicas. Países europeus e os Estados Unidos reclamam da forte política de subsídios que alimenta a produção das empresas.
Segundo as companhias chinesas de energia que atuam no Brasil, não há prejuízo para os fornecedores locais. A Spic diz que suas aquisições de bens são públicas e abertas a todo mercado. Já a CTG Brasil afirma que desenvolve programas para aumentar a oferta de bens e serviços locais.
“O problema está mais nos subsídios dados à produção na China do que na participação das empresas chinesas como concessionárias no Brasil”, afirma o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Ele argumenta que a indústria do país asiático define preços em função da sua capacidade ociosa, e não dos seus custos de produção.