Urgência da pauta climática pressiona as empresas para que mudem a maneira de fazer negócios.
A urgência da pauta climática tem pressionado as empresas para que mudem a maneira de fazer negócios. Ainda que o ritmo esteja mais lento do que os cientistas gostariam, o fato é que os riscos e as oportunidades que a descarbonização traz estão no radar de bancos, empresas e governos. O Brasil, segundo especialistas, tem uma oportunidade de ouro, dada as fontes de energia renováveis e sua biodiversidade.
“O Brasil precisa resolver o desafio da sustentabilidade para atingirmos os ODSs [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável]. Se o Brasil não conseguir, ficarei mais pessimista com o resto do mundo”, comentou John Elkington, especialista em sustentabilidade corporativa e idealizador do conceito de triple bottom line, que serviu de base para o movimento ESG.
Provas de que o jeito de fazer negócios está mudando, segundo Elkington, estão nos exemplos da montadora Ford e da química Solvay. “Se eu falasse à Ford anos atrás que ela teria hoje uma divisão de carros a combustão e outra de elétricos, eles iriam rir na minha cara, porque acreditavam que a eletrificação não iria avançar”, disse Elkington em seu painel no evento SDGs Brazil, organizado pelo Pacto Global da ONU em Nova York. Sobre a Solvay – gigante que teve € 13,4 bilhões em vendas
líquidas em 2022 e que no Brasil opera com a marca Rhodia -, ele cita os investimentos relevantes em produtos menos poluentes.
Shari Friedman, diretora de clima e sustentabilidade da consultoria Eurasia, destacou que a virada de chave acontece quando as companhias percebem que a mudança pode determinar sua sobrevivência financeira. “Questões sociais e ambientais estão interconectadas com a lucratividade. Há um impacto importante das políticas climáticas no balanço das empresas”, afirmou Friedman, presente no Brazil Climate Summit, evento organizado por alunos e ex-alunos brasileiros da Universidade de Columbia.
Como exemplos de riscos, Friedman citou a maior ocorrência e intensidade de desastres naturais e as mudanças regulatórias para descarbonizar setores, como o chamado Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), lançado pela União Europeia este ano e que determina taxas extras a produtos exportados ao bloco. “Desde que a União Europeia lançou o CBAM, outros mercados passaram a se mexer. Vemos países como Japão, Reino Unido, Coreia do Sul e China mudando suas políticas para terem programas de descarbonização”. Do lado das oportunidades, ela avalia que segmentos e cadeias serão criadas para atender às novas demandas.
Rich Lesser, conselheiro global da consultoria BCG, reiterou no mesmo evento que em vários lugares do mundo seus clientes têm procurado orientação para continuar a vender para a Europa. “Eles querem participar das novas regras. Mas, para participarem, precisam ser capazes de adaptar os seus sistemas porque o contexto mudou”, disse. Para Lesser, além de reinventar negócios, as empresas têm a oportunidades de criar produtos e serviços verdes, especialmente de base tecnológica.
“Precisamos que novas tecnologias sejam escalonadas e que cheguem a custos mais baixos. Quando você reduz o custo de uma tecnologia, você reduz para o mundo”, afirmou. Para ele, o setor privado pode ter um papel crucial para fomentar o ecossistema. Neste sentido, os Estados Unidos têm feito um interessante trabalho direcionado no âmbito do Inflation Reduction Act (IRA), programa de incentivos à economia verde. Centenas de bilhões de dólares estão sendo distribuídos a setores e empresas que busquem a descarbonização.
Um exemplo muito citado durante os eventos foi a diminuição do preço das tecnologias, como a energia solar. De acordo com a consultoria Greener, entre junho de 2016 e 2022, os sistemas fotovoltaicos residenciais no Brasil tiveram queda de 44% no custo para o cliente final. E a tendência é ser cada vez mais acessível. Só o valor do polissilício, principal matéria-prima para produção de painéis solares, caiu de US$ 30,80/kg, em fevereiro, para US$ 12,62/kg na primeira semana de junho de
2023, ainda segundo a Greener.
Não à toa a adoção da tecnologia se popularizou no Brasil. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a geração distribuída de energia passou de 18 gigawatt (GW) em janeiro, para 22,2 GW de potência instalada em meados de junho,
com mais de 2 milhões de sistemas instalados em todas as regiões do país. Disso, 22 GW são de fonte solar fotovoltaica.
Bruce Usher, co-diretor da Tamer Center for Social Enterprise e professor na Columbia Business School, observa que o mundo tem soluções acessíveis e que reduzem as emissões. “Só com o que já temos disponível, conseguimos reduzir em 15% as emissões em 30 a 40 anos. Parte da tecnologia para acelerar o ritmo ainda não está acessível financeiramente, mas já existe”, disse.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/esg/noticia/2023/09/21/fontes-renovaveis-e-biodiversidade-abrem-oportunidades-para-o-pais.ghtml