Primeira das “novas energias” a chegar no Brasil, a fonte eólica, ou movida pelos ventos, tem batido recordes de instalação ao longo dos anos e já trouxe mais de R$ 300 bilhões em investimentos para o País. Em 2023, respondeu por quase 50% de toda expansão do setor elétrico e até 2030 serão investidos mais R$ 175 bilhões para acrescentar 25 gigawatts (GW) de potência já contratada em leilões nos últimos anos, chegando a 55 GW. Os números levam em conta projetos construídos em terra. Quando a tecnologia chegar ao mar, o que deve acontecer na próxima década, a expectativa é triplicar os investimentos. As eólicas offshore prometem dobrar a capacidade instalada total de energia elétrica do País, hoje em torno dos 200 GW.
“O crescimento da eólica se deve primeiro à sua competitividade, porque ela gera energia mais barata. E a partir de 2018, além das contratações em leilões, a eólica começou a ser contratada no mercado livre. O mercado livre foi um grande impulsionador e continua sendo, e não deixará de ser”, afirma a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum.
A expectativa é que também apareçam projetos de eólica em contratos bilaterais no mercado livre de energia, plataforma também em expansão e que tem sido um grande vetor de crescimento para a energia renovável de maneira geral, puxada pelo processo de descarbonização da economia. O setor atualmente representa cerca de 10% da matriz elétrica brasileira, com 30 GW de potência instalada e a geração espalhada por 1.003 parques eólicos em 12 estados. A energia é responsável por abastecer 41 milhões de
residências no País.
Segundo Gannoum, de 2009 até 2018 a fonte eólica instalava uma média de 2 gigawatts (GW) por ano. A partir de 2019, com a maior expansão do mercado livre para empresas, essa média saltou para volumes superiores a 3 GW e chegou a contratar mais de 4GW. Desse total, “80%, em média, veio do mercado livre, porque as empresas estão buscando energia renovável para colocar na sua produção, tanto pela competitividade como pelo fato de ser energia limpa”, explica.
Ela afirma que os leilões de energia do governo foram se tornando bastante insignificantes, já que são feitos para atender a demanda das distribuidoras e as mesmas dependem do crescimento da economia. Com sobra de energia no mercado, a tendência, na avaliação da executiva, é de que cada vez ocorram menos leilões. Para este ano, a previsão de Gannoum é que a eólica instale mais 5 GW.
BNDES
Um dos grandes motivos do sucesso da energia eólica no Brasil pode ser creditada ao apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pelo financiamento de quase 60% dos projetos, ou R$ 3,1 bilhões por ano. O “pulo do gato” do banco foi estipular, desde o início, um elevado compromisso com o conteúdo nacional. Entre 2004 e 2013 era preciso ter 60% de conteúdo nacional para construir um parque eólico no Brasil, e, há 10 anos, o percentual pulou para 80%, o que trouxe muitos fabricantes de aerogeradores para território brasileiro.
“A energia eólica é talvez o único caso de sucesso da política industrial do Brasil quando se fala de conteúdo local. Oitenta por cento de uma turbina eólica é produzida no Brasil, e são grandes produtores, as principais fabricantes de turbinas do mundo”, diz Gannoum.
Desde a primeira operação de geração eólica aprovada pelo banco, em 2005, até hoje, já foram financiados R$ 56,4 bilhões em projetos de geração eólica, o que equivale a uma capacidade instalada total de 18,9 GW. O banco diz que da capacidade total dos parques eólicos em operação comercial no Brasil, o BNDES participou com apoio financeiro em 57,5%.
“Além do apoio a projetos de geração eólica, ao longo dos anos o banco tem financiado tanto projetos de desenvolvimento de aerogeradores e fabricação de componentes quanto apoiado empresas brasileiras na exportação desse tipo de equipamento. Em 2023,
foram contratados cerca de R$ 153 milhões em operações dessa natureza”, informa a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa.
Hidrogênio
O hidrogênio também será um grande impulsionador da geração eólica, na avaliação do professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, que não vê a versão marítima da fonte chegar tão cedo ao Brasil. Para ele, como país continental, ainda existe muito lugar em terra para ser explorado, ao contrário da Europa que não tinha outra opção. Segundo estudos do setor, em terra o Brasil tem potencial para 800 GW de projetos eólicos.
“O potencial que o Brasil tem para energia eólica é quase infinito. O País vai priorizar o onshore (terra), porque o offshore é cinco vezes mais caro. No Brasil, que é um país de dimensão continental, e a densidade demográfica está concentrada nas cidades, não há racionalidade econômica que justifique eólica offshore, é muito mais cara, tem que ter rede de transmissão especial”, avalia.
Para ele, a energia solar deve crescer mais que a fonte eólica nos contratos bilaterais do mercado livre, or serem projetos mais baratos e de mais fácil instalação. Mas a expansão da eólica em terra estará garantida se os projetos de hidrogênio verde se
confirmarem.
“Tem uma oportunidade que vale para as duas fontes que à medida que a indústria de hidrogênio cresça, vai precisar de energia elétrica renovável. E essa demanda de energia elétrica vai crescer independente do PIB e dos parâmetros que hoje regem o crescimento da demanda de energia elétrica no Brasil, é uma fronteira em expansão”, afirma.
Já o CEO da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso, destaca a excelente qualidade do vento nacional, com um perfil complementar à geração hidrelétrica, e o ganho de escala e avanço tecnológico como os fatores que deram impulso à fonte e a tornaram competitiva.
“Em capacidade instalada a eólica é a segunda maior fonte em construção no País atrás apenas da solar, e confirmando o protagonismo das renováveis no Brasil”, diz o executivo, que já foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Para ele, “o ambiente regulatório no Brasil é favorável, oferecendo boas oportunidades de negócios, atrativas linhas de financiamento e incentivos econômicos.”
Assim como o coordenador do Gesel, Barroso ainda tem ressalvas em relação à construção de parques eólicos offshore, já que ainda depende da aprovação do marco legal, da emissão das licenças necessárias e da contratação da energia. Segundo ele, haverá competição entre as fontes existentes, “já que a demanda é finita”, e a eólica offshore tem potencial para deslocar parte da oferta prevista para os próximos anos de todas as fontes, incluindo de fonte eólica onshore. “Isto só não ocorreria caso houvesse uma obrigação de contratar a fonte independente das necessidades do sistema”, alertou.
Por Estadão – Broadcast.
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