Entre janeiro e março deste ano, 19,2% da energia gerada no Brasil veio dessas duas fontes.
Um levantamento feito pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a pedido
do Valor, mostrou que a participação das fontes renováveis eólica e solar na geração
de energia elétrica para o Sistema Interligado Nacional (SIN) tem sido crescente nos
últimos anos.
Entre janeiro e março de 2024, 19,2% da energia gerada no Brasil veio das fontes
eólica e solar. No mesmo período de 2023, esse percentual foi de 14,7%. Já na comparação com o primeiro trimestre de 2022, a diferença é ainda mais expressiva: 19,2% ante 10,9%. Incluindo a geração hidrelétrica, as fontes renováveis representam mais de 90% da energia gerada, posicionando o Brasil como referência global na transição energética.
“O crescimento da participação das fontes de geração eólica e solar na matriz elétrica brasileira evidencia a atratividade dessas fontes na atual conjuntura do mercado de energia elétrica brasileiro e também contribui para a diversificação da matriz elétrica”, diz o ONS em nota.
Segundo o órgão, essa diversidade de fontes da matriz elétrica brasileira é positiva, pois aumenta a segurança energética e permite fazer a operação do sistema otimizando os recursos da melhor maneira possível.
Se no passado, o modelo do setor elétrico era composto por poucas grandes hidrelétricas suprindo a demanda de energia e sendo auxiliadas por usinas térmicas, hoje essa situação foi drasticamente mudada e o setor é disperso com geração distribuída e muitas usinas eólicas e solares.
Nas últimas duas décadas, o Brasil observou a entrada massiva de eólicas e solares, tendência que deve permanecer, vista a seus atributos ambientais. Todavia, tais mudanças estão exigindo melhoras tecnológicas, já que fontes eólicas e solares não podem ser despachadas, já que o homem não tem controle do sol e do vento.
Especialistas apontam que as fontes eólicas e solares são demandas da sociedade, porém trazem desafios à operação do sistema, já que elas são intermitentes e não podem ser armazenadas em sua forma original, o que torna mais complexa a operação do sistema.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, destaca a dificuldade de estabilizar o suprimento, já que eólicas e solares dependem do vento e do sol e hidrelétricas têm sazonalidade com meses de chuva e de estiagem.
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que, juntas, eólica e solar representam 22% da capacidade instalada da matriz elétrica. Só durante o ano de 2023, o Brasil instalou 291 usinas, com 10,3 gigawatts (GW) de capacidade instalada, o maior crescimento anual da série histórica da agência reguladora, iniciada em 1997.
O ex-diretor da Aneel, Edvaldo Santana, explica que essa abundante oferta de energia, sem planejamento adequado e impulsionada principalmente por subsídios, se tornou um desafio para o país, que agora não consegue absorver esse excesso.
Segundo Santana, essa “anomalia econômica” tende a aumentar mais a tarifa de energia, contrariando os conceitos tradicionais de demanda e oferta no mercado, já que os subsídios são embutidos na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial bancado pelos consumidores via conta de luz.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/06/15/eolica-e-solar-aumentam-participacao-no-sistema-eletrico-mas-intermitencia-exige-aprimoramento.ghtml