Estudo do Instituto E+ analisa últimas três crises causadas por restrições hidrelétricas e conclui que solução via redução de carga é mais recomendada.
Estudo apresentado hoje (6) pelo Instituto E+ propõe que a melhor forma de se combater crises do setor elétrico é pelo lado da demanda, ao contrário do que o país fez nas duas últimas crises registradas, as de 2013 e de 2021, ambas causadas por choques de oferta oriundos da baixa hidrologia dos períodos.
Batizado de “Resiliência Energética Brasileira: Aprendizados dos períodos de restrições na produção hidrelétrica de 2001, 2013 e 2021 para o Futuro”, o estudo – conduzido pelos especialistas Paulo Born, Luiz Maurer, Luiz Barata e Edlayan Passos – chega a essa conclusão ao avaliar as diferenças entre as formas de gerenciamento entre os três períodos.
Em lados opostos, segundo a análise, estariam a forma de conduzir a crise de 2001, pela qual o principal instrumento para debelar a
chamada crise do apagão foi a instituição de medidas de racionamento, e as de 2013 e 2021, estas duas com gerenciamento baseado somente pelo lado da oferta, principalmente com ações de expansão do despacho térmico e de estímulo a novas usinas também das fontes termoelétricas.
As consequências provam que a primeira crise teve melhor gerenciamento, na análise, com mais pontos positivos do que negativos, já que a meta de economia no consumo de 20%, durante nove meses em 2021, foi exitosa a ponto de ter passado a ser considerada melhor prática internacional, “copiada por outros países”, segundo pontuou Luiz Maurer, durante apresentação online nesta quinta (6) sobre o estudo. A redução instituída previa fortes incentivos e penalidades para que os consumidores ficassem dentro das metas.
Como resultado do êxito, o impacto econômico da crise de 2001 foi amenizado, com o PIB na época, mesmo com o racionamento, registrando crescimento, sem aumento nas taxas de desemprego e com aumento na produção industrial. E isso mesmo diante de cenário
macroeconômico global difícil em 2001.
O estudo do E+ analisou o custo financeiro da crise do apagão de US$5,17 bilhões como menor do que era previsto e registrado em acordos setoriais (geradoras e distribuidoras), em diferenças de bônus e taxas e no seguro apagão.
Já as crises posteriores, sem medidas de racionamento e baseadas na ampliação da oferta e despacho térmico, segundo o levantamento,
tiveram custos muito mais elevados e criaram outros problemas, entre eles o aumento da emissão de carbono.
A de 2013 foi embasada em modelo de expansão da oferta térmica (20 GW), no maior acionamento das existentes, e introduziu posteriormente (2015) as bandeiras tarifárias, que passaram a institucionalizar no país o mecanismo de recorrer ao despacho térmico mais caro e poluente como principal solução para as crises.
O resultado foi um custo muito elevado, calculado em U$ 33,7 bilhões, com um total de geração térmica flexível de 291,3 TWh para um
consumo total de 1.895 TWh. Isso sem falar no impacto ambiental, já que somente com a geração térmica flexível foram emitidas 189,9
milhões de t de CO2e em 42 meses.
Consequências semelhantes ocorreram em 2021, aponta o estudo, que usou princípio básico igual ao de 2013, ou seja, despachar o
parque térmico o máximo possível. Apesar de na época ter sido criado o mecanismo de resposta de demanda (RVD), uma solução apoiada pelo estudo, mas que teve pouca adesão e depois foi descontinuado, as ações que realmente foram implementadas foram custosas, “com incentivos insuficientes e não simétricos”.
Nesses casos, o estudo lembra das contratações de reserva de capacidade exclusivas para térmicas, com o leilão de reserva de
capacidade e o Procedimento Competitivo Simplificado (PCS). Com essas ações, o custo total da crise foi de US$ 17,32 bilhões, sendo US$ 7,30 bilhões de geração térmica flexível, U$ 7,80 bilhões do PCS e US$ 1,73 bilhão do leilão de reserva de capacidade, além de
US$ 480 milhões de pagamentos de bônus e apenas US$ 10 milhões utilizados nas poucas remunerações do programa de resposta de
demanda (RVD).
Se fosse pela demanda
Para comprovar a tese de que as medidas pela demanda seriam mais efetivas, o estudo calculou que, no caso da crise de 2013, se o
consumo total tivesse sido reduzido em apenas 5,3%, teria sido possível eliminar a geração flexível com CVU superior a US$100/MWh.
Isso resultaria em economia de US$ 17,2 bilhões, ou seja, os gastos com o período crítico seriam 56% menores. Para reduzir toda a geração flexível seria preciso uma redução no consumo de 15,4%, ainda assim menor do que a meta estabelecida em 2001. Já na crise de 2021, uma economia no consumo de 3,9% teria reduzido os gastos de combustível em US$ 4,9 bilhões, com queda de 67%.
Agir antes
A proposta central dos autores é promover programas voluntários de redução de consumo, de preferência de forma antecipada, o que na
maioria das vezes dá para ser mensurado antes da crise se instalar. A instituição de programas de resposta de demanda, solução empregada globalmente, se encaixaria dentro desse planejamento. Não à toa, Edvaldo Santana, diretor da Aneel na época do apagão, e
que participou do evento online de apresentação do estudo, lembrou que em setembro de 2000 a agência já sabia que ocorreria
racionamento em 2001, mas por decisão de governo (ONS) não foram antecipadas as medidas de corte.
“Nós já sabíamos que ia ter racionamento porque mesmo se chovesse a média ou um pouco mais no período de chuva entre 2000 e 2001
não teria onde acumular água, porque tinham 30 GW de usinas hidrelétricas atrasadas e que não entrariam em operação”, disse. “Ou
seja, a saída para evitar ou ter menor racionamento em 2001 seria reduzir a carga em 2000. Aí não precisaria cortar 20%, como acabou
ocorrendo, mas sim 5% ou 6%, que já seria suficiente e que no fim das contas é um esforço insignificante para o consumidor”, completou.
Por Energia Hoje.
https://brasilenergia.com.br/energia/panorama/crises-do-setor-eletrico-se-evitam-pelo-lado-da-demanda-diz-e