Quase sem contratos há dois anos, fabricante local vê desmonte na cadeira de suprimentos e busca opções para continuar existindo.
A crise da indústria de energia eólica brasileira, que persiste desde meados de 2022, está fazendo com que os fabricantes nacionais de equipamentos comecem a olhar o mercado dos Estados Unidos como uma possibilidade de retomar os lucros.
Com dificuldades de fechar novos contratos nos últimos dois anos, o Brasil viu um desmonte em sua cadeia de suprimentos com empresas anunciando paralisação ou hibernação de suas linhas de produção, demissões e até a saída do mercado brasileiro.
Por outro lado, os benefícios oferecidos pelo Inflation Reduction Act (IRA), pacote verde do governo de Joe Biden que garante investimentos na agenda climática voltada a atrair recursos para energia limpa, têm chamado a atenção das companhias. O Valor noticiou com exclusividade que a multinacional catarinense WEG produzirá turbinas eólicas em território americano motivada pelo IRA.
O diretor superintendente da WEG Energia, João Paulo Gualberto da Silva, explicou que o IRA prevê cerca de US$ 370 bilhões de incentivo para transição energética ao longo de dez anos e créditos para quem fabricar os componentes localmente, como o hub [peça onde encaixa as pás] e a nacele [estrutura que abriga componentes do aerogerador], com abatimento de imposto de renda federal. A empresa atua agora no desenvolvimento da cadeia de fornecimento.
Já a fabricante de pás eólicas Aeris vem amargando momentos ruins no Brasil. Ela viu os papéis derreterem e precisou demitir 1.500 funcionários para adequar a produção. Em novembro de 2023, a empresa fez o follow-on e está trabalhando com bancos de fomento, BNDES e BNB, para melhorar o perfil da dívida.
Ao Valor, o diretor financeiro e de relações com investidores, José Azevedo, vê espaço para crescimento do setor eólico em terra (onshore) e crê que o Projeto de Lei da energia eólica em alto mar (offshore), que visa estabelecer um quadro regulatório para o setor, pode dar mais impulso ao setor. No entanto, no curto prazo, o executivo espera melhores resultados nos EUA.
“Estamos olhando um cenário favorável para exportações [para os EUA]. No ano de 2024 não devemos produzir para exportação, mas a gente acredita que teremos ordens para 2025”, prevê Azevedo.
Resta saber se a empresa será competitiva, já que os EUA oferecem uma série de subsídios aos fabricantes locais. O executivo garante que sim, já que o mercado americano tem mão de obra escassa. Além disso, o custo do operário é muito maior que no Brasil. “Mesmo com os subsídios americanos, a gente consegue competir”, frisa.
Do outro lado da fronteira, os americanos parecem estar dispostos a receber empresas brasileiras. Durante o Summit Brazil-USA, evento realizado pelo Valor, a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, afirmou que o país está pronto para investir e cooperar com o Brasil em parcerias relacionadas à transição energética e energia verde, áreas, segundo ela, com grande potencial para aumentar as relações comerciais entre os dois países.
A diretora de políticas Brasil do GWEC, Roberta Cox, lembra que a cadeia produtiva de eólicas no Brasil teve uma trajetória de sucesso responsável por geração de empregos e renda para o Brasil, mas agora passa por dificuldades. Para ela, é preciso
rever projetos de financiamento, aprovar o marco legal de eólicas em alto-mar (offshore), definir um planejamento para leilões de área, acelerar a legislação de hidrogênio verde e buscar a força política para a retomada da economia.
“Estamos vendo empresas brasileiras migrando para produzir em outros países, pois a sinalização é clara: haverá projetos de eólicas e não há cadeia de suprimentos suficiente. A indústria vai buscar uma forma de produzir e entregar, perde o Brasil se não segurar essa indústria em solo nacional, pois o mercado global está anunciado, mas precisamos de mercado interno para dar segurança e manter as indústrias gerando empregos aqui”, diz Cox.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/05/16/crise-na-industria-eolica-brasileira-impulsiona-busca-por-mercado-americano.ghtml