“Vamos fazer poucos compromissos, mas tentar entregar resultados”, diz Paula Barboza.
Em janeiro de 2025, o Brasil assume a presidência do Brics com uma agenda que inclui a transição energética e a reforma dos mecanismos financeiros globais, em que pretende fazer uma ponte entre os acordos alcançados durante a presidência do G20, este ano, e a COP30, que acontece em Belém, no final do ano que vem.
Atualmente, o Brics é um grupo de países do Sul Global formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã e Arábia Saudita – este último ainda não integrado formalmente.
Além dos países-membros, este ano foram anunciados os países parceiros, que incluem Cuba, Bolívia, Turquia, Cazaquistão, Belarus, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda, entre outros.
Segundo a ministra Paula Barboza, chefe da Coordenação-Geral de Negociações Comerciais Extrarregionais do Itamaraty, responsável pela cúpula do Brics no ano que vem, o Brasil pretende aproveitar a oportunidade para alcançar um alinhamento entre os compromissos nacionais dos países-membros, conhecidos como NDCs, a fim de garantir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
“Um dos temas principais que a gente vai tratar nessa área de mudança do clima e meio ambiente é justamente na área de financiamento de projetos e na área de alinhamento dos NDCs”, afirmou à agência eixos, durante evento promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisa Brics, nesta quarta (11/12), no Rio de Janeiro.
Cinco prioridades da agenda brasileira
Barboza explica que a agenda da presidência do Brasil possui dois eixos principais: a reforma da governança global e a cooperação Sul-Sul.
Esses eixos serão o alicerce para avançar em cinco prioridades, que incluem a mudança do clima e as transições energéticas, além da reforma do sistema financeiro e monetário internacional; a governança da inteligência artificial; a cooperação em saúde pública; e o desenvolvimento institucional do Brics.
“Vamos discutir temas de financiamento de projetos voltados à sustentabilidade, inclusive mudança do clima e qualquer projeto ligado à mitigação e adaptação”, revela.
A ministra destaca que, diferente das discussões que ocorreram na COP29 de cobrança por financiamento climático com recursos de países ricos, no Brics, o foco será no papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) — conhecido como banco do Brics.
“Essa questão com os países ricos pode estar num pano de fundo, mas no Brics mesmo a discussão deve ficar em torno do financiamento do NDB. Minha expectativa é que haja algum resultado mais prático (…) Vamos fazer poucos commitments (compromissos), mas tentar entregar resultados”, avalia.
A 29ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP29) terminou com o compromisso de países ricos em liderar a mobilização de pelo menos US$ 300 bilhões anuais até 2035 para países em desenvolvimento investirem em ação climática. Um valor muito aquém dos US$ 1,3 trilhão anuais esperados.
Grandes produtores de óleo e gás
Ela lembra que os membros do Brics, incluindo a Arábia Saudita, são responsáveis por 43% do petróleo, 53% das reservas de gás natural e 70% do carvão, além das grandes reservas de minerais críticos, o que evidencia a importância estratégica do bloco na definição de soluções globais para a crise climática
Nesse contexto, o Brasil, com sua matriz elétrica predominantemente limpa e uma matriz energética com maior participação de biocombustíveis, assume um papel de liderança para na agenda de transição energética.
“Justamente porque é um bloco diferente de nós, que é um desafio. É importante você conversar, consertar. Ainda que as posições sejam diferentes, você tem que sentar e conversar. Diplomacia é isso. É sentar com o diferente”, avalia.
“O Brics é um ótimo espaço para a gente discutir com países com matrizes energéticas tão diferentes da brasileira. Por isso, pode ser considerado um momento prévio à COP30. Então, nós estamos utilizando um foro com países que estarão importantíssimos na COP30 e estaremos tendo discussões prévias, o que é um privilégio”, completa.