Brasil pode liderar transição energética, mas depende de estabilidade fiscal e regulatória, diz Shell

“Brasil pode crescer o seu consumo de energia em 50% entre agora e 2050, muito relacionado a aumento per capita e investimento e crescimento do Produto Interno Bruto”, disse o presidente da Shell Brasil.

O presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, afirmou nesta quinta-feira (15), no Rio, que o Brasil tem grandes oportunidades de avançar em todas as frentes energéticas. O executivo observou, porém, que esse cenário depende de estabilidade fiscal e regulatória competitiva para que os investimentos cheguem ao país.

Costa apresentou o estudo “Cenários Shell” sobre o futuro da energia no Brasil, no Rio Innovation Week. As projeções, lançadas em junho deste ano, trazem dois cenários: o Sky 2050 e o Arquipélagos.

O primeiro apresenta uma transição energética mais rápida, com abertura comercial e acesso crescente a fontes de energia de baixa emissão de carbono. Já o segundo considera um contexto com maiores barreiras comerciais e tarifas.

“O Brasil é um país em desenvolvimento que ainda tem um potencial de crescimento econômico grande. O estudo mostra que, em ambos os cenários, o Brasil pode crescer o seu consumo de energia em 50% entre agora e 2050, muito relacionado a aumento per capita e investimento e crescimento do Produto Interno Bruto”, disse ao Valor.

Ambas as projeções indicam que o Brasil deve atingir a neutralização de carbono — isto é, emissões líquidas zero de CO2 — antes da maior parte das grandes economias. O cenário se deve à matriz energética e elétrica, que já está entre as mais limpas do mundo. Além disso, Costa destacou que o país tem forte potencial para sequestro de carbono e neutralização usando a natureza.

O presidente da Shell destacou ainda que o Brasil é uma potência de óleo e gás, biocombustíveis,energia eólica e solar e que está avançando no mercado de hidrogênio de baixo carbono. Com isso, está bem posicionado para liderar o movimento de transição energética.

Mas para que esse movimento aconteça de fato, ele enxerga duas áreas de crescimento. No setor de óleo e gás, acredita que é preciso ter estabilidade fiscal e “evitar a tentação de aumentar a carga tributária”. No lado das fontes renováveis, afirmou que é fundamental a criação de marcos regulatórios que deem suporte e segurança.

“O setor de óleo e gás é um setor de ciclos de investimento muito longos, que precisa de previsibilidade e que tem uma carga tributária muito alta. Se eu citar o número do Instituto Brasileiro de Petróleo, dois a cada três barris de petróleo produzidos no Brasil ficam em pagamentos de impostos, participação especial e royalties”, destacou.

Costa enfatizou ainda que o setor precisa de leilões consecutivos todo ano, para que a indústria possa se preparar, e acrescentou que é necessária a abertura de novas fronteiras para continuar expandindo. “A bacia de Campos e a bacia de Santos estão dando sinais de esgotamento. O Brasil precisa começar a procurar óleo e gás em outras áreas.”

O presidente da Shell observou que o setor de óleo e gás está “de fato financiando” a transição energética e que o Brasil tem oportunidade de avançar em todo o espectro de energia. “Não podemos deixar uma versus a outra”, comentou.

Quanto ao posicionamento da empresa, Costa enfatizou que ainda se trata de uma companhia de óleo e gás, mas que vem traçando passos concretos para se tornar uma companhia do setor de energia — algo que reforçado pelo lançamento da Shell Energy e a parceria com a Raízen, que atua no setor de etanol.

Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/08/15/brasil-pode-liderar-transio-energtica-mas-depende-de-estabilidade-fiscal-e-regulatria-diz-shell.ghtml

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