Do G20 à COP30, país pode ajudar a moldar rumo do mundo pelos séculos que virão.
Nos próximos dois anos, o Brasil pode ajudar a moldar o rumo do mundo pelos séculos que virão. Como presidente do G20 este ano e da COP30 da ONU em 2025, o país tem a oportunidade de mostrar como o combate às mudanças climáticas, o avanço da economia e a promoção da prosperidade estão interligados. A necessidade de agir é urgente, por isso é extremamente encorajador que o Brasil tenha construído uma agenda climática ambiciosa e compatível com o momento.
O Brasil possui uma combinação única de recursos e capacidades que o posicionam para ajudar a liderar a transição global para uma energia mais limpa e emissões mais baixas, além de disponibilizar recursos para o crescimento verde de outros países em desenvolvimento. Também possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, graças à sua abundância de energia hidrelétrica e à adoção das fontes eólica e solar. O país abriga mais da metade da floresta amazônica e a maior concentração de biodiversidade do planeta. Além disso, possui quase um sexto da água doce do mundo, um ativo fundamental para a produção de hidrogênio verde, bem como recursos abundantes para a produção de energia limpa, biocombustíveis e outros componentes importantes de uma economia de baixo carbono.
A capacidade do país de utilizar sua vasta riqueza natural de maneiras que beneficiem o planeta e preservem a biodiversidade pode estabelecer um exemplo poderoso para todo o mundo. E a boa notícia é: o Brasil está se preparando para enfrentar o momento. Tem o potencial de se tornar o primeiro país do G20 a atingir emissões líquidas zero de carbono e, ao mesmo tempo, criar novos empregos,
expandir oportunidades e se tornar um player cada vez mais importante e competitivo nos setores em crescimento que moldarão a economia global nos próximos anos.
A matriz energética do Brasil já torna a produção de bens menos intensiva em carbono do que em outros países, e agora o país está buscando novas oportunidades nas indústrias do futuro. Esses planos incluem uma estratégia para descarbonizar as indústrias mais poluentes, um dos desafios climáticos mais difíceis. O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de cimento, aço, alumínio e
minério de ferro – setores essenciais para o crescimento econômico, mas que geram muitas emissões e são complexos de eletrificar, dificultando a transição para energia solar, eólica e hidrelétrica. Tecnologias inovadoras, como o hidrogênio verde, serão uma peça importante na solução desse problema e, com vento e sol fortes, o Brasil tem o potencial de ser o produtor de hidrogênio verde de menor custo do mundo.
A proteção ambiental é especialmente importante para as ambições climáticas do Brasil, uma vez que o agronegócio, o desmatamento e o uso da terra são responsáveis por mais da metade da pegada de carbono do país. O país tem um histórico sólido no que diz respeito à proteção dos recursos naturais e estabeleceu uma meta para acabar por completo com o desmatamento ilegal até 2030. Na Amazônia, o problema já foi reduzido pela metade no primeiro ano do atual governo, mostrando ao mundo que pode sim ser realizado com uma forte liderança. Em âmbito global, o fim do desmatamento, a proteção e a restauração de ecossistemas e a adaptação de práticas agropecuárias poderiam, juntos, alcançar cerca de 30% das reduções de emissões necessárias até 2030.
Enquanto acontece o encontro do G20 em São Paulo nesta semana, os demais países devem ser incentivados a seguir o exemplo do Brasil e apoiar a colaboração público-privada necessária para transformar planos em realidade. A Bloomberg e nossos parceiros estão trabalhando para fornecer esse apoio em países de todo o mundo. Para isso, paralelamente às reuniões do G20, a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) une forças com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, para desenvolver uma Plataforma de Transição Climática inédita mobilizando mais investimentos internacionais em apoio às metas de crescimento verde do Brasil. Por meio da plataforma, promoveremos a colaboração entre os setores público e privado para ajudar a financiar os projetos climáticos do governo.
Além disso, com base no lançamento da Rede Regional da GFANZ para a América Latina e o Caribe em outubro de 2023, o Brasil sediará o primeiro Capítulo Nacional do GFANZ na América Latina e no Caribe. Por meio da instituição, mais de 675 organizações financeiras globais se comprometeram a reduzir as emissões em seus portfólios. Como potência financeira global, o Brasil tem um papel fundamental no aproveitamento dos mercados de capitais para direcionar mais investimentos para a luta contra as mudanças climáticas no mundo.
Contando com uma forte liderança no âmbito federal, o Brasil pode liderar de baixo para cima, em todos os setores da sociedade – desde comunidades de povos originários até governos estaduais e líderes urbanos. As grandes cidades são responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa do mundo, e o Brasil é um dos países mais urbanizados: quase 90% por cento dos brasileiros vivem em cidades. Estas têm demonstrado determinação e criatividade para enfrentar a mudança climática de maneiras que melhoram a vida das pessoas. Desde os sistemas de ônibus rápidos pioneiros em Curitiba passando por novos projetos de energia renovável no Rio de Janeiro, até os investimentos em infraestrutura para bicicletas em Fortaleza e os esforços de São Paulo para conectar agricultores locais aos mercados urbanos – programas que a Bloomberg Philanthropies tem tido o prazer de apoiar.
Mais de 150 cidades brasileiras são líderes ativas no C40 Cities Climate Leadership Group e no Pacto Global de Prefeitos, fóruns nos quais as cidades estabelecem metas climáticas baseadas na ciência e compartilham melhores práticas. As cidades ajudaram o Brasil a continuar avançando em relação às mudanças climáticas durante anos de ausência de ação em âmbito federal. E agora, com o apoio e a
liderança nacional, elas podem ser parceiras fundamentais enquanto o Brasil trabalha para atingir suas metas. Por meio da Coalizão para Parcerias Multiníveis de Alta Ambição, lançada na COP28, o Brasil é um dos mais de 70 países que estão encontrando novas maneiras de maximizar a ação climática trabalhando com cidades, estados e regiões no planejamento, financiamento e implementação das
Contribuições Nacionalmente Determinadas.
Com todos esses elementos, o Brasil está pronto para mostrar ao mundo o que é possível no enfrentamento das mudanças climáticas, o maior desafio global da atualidade e construir um futuro mais brilhante e próspero para os brasileiros em todo o país.
Michael R. Bloomberg é enviado especial do Secretário-Geral da ONU para Ambição e Soluções Climáticas, fundador da Bloomberg Philanthropies e da Bloomberg L.P. e ex-prefeito da cidade de Nova York (2002-13).
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/brasil-esta-pronto-para-liderar-combate-a-mudanca-climatica.ghtml