“Há uma grande perspectiva de negócios com o Brasil”, diz Dr. Jochen Köckler, presidente do conselho administrativo da Deutsche Messe AG, que gerencia a maior feira de tecnologia industrial do mundo.
O Brasil é considerado um potencial parceiro estratégico como gerador e fornecedor internacional de energias renováveis em escala para indústrias que estão em processo de transição energética para fontes verdes. “Há uma grande perspectiva de negócios com o Brasil”, diz Dr. Jochen Köckler, presidente do conselho administrativo da Deutsche Messe AG, empresa que gerencia a maior feira de
tecnologia industrial do mundo, que acontece em Hannover, na Alemanha. “O país tem uma enorme capacidade de produzir energia limpa de forma escalável a partir de seus parques solares e eólicos”, afirma.
O tradicional evento reúne empresários industriais e políticos há 77 anos. O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, estarão presentes à cerimônia de abertura, que acontece em abril.
Na edição deste ano, a feira Hannover Messe reunirá mais de 4 mil expositores e 300 startups para apresentar soluções e debater tendências tecnológicas relacionadas à digitalização, automação e eletrificação — tendo a inteligência artificial como ponto de conexão. A discussão central, no entanto, vai girar em torno do tema “Energizando uma Indústria Sustentável”.
“Estamos em um momento especial devido aos efeitos da guerra na Ucrânia e aos eventos climáticos extremos. O custo da energia subiu muito. Precisamos, no médio prazo, de energia vinda de outros fornecedores e de fontes limpas, porque não temos como gerar toda a energia necessária aqui dentro se queremos migrar para uma indústria sustentável”, diz Dr. Köckler, da Deutsche Messe AG.
Em sua visão, a transformação da indústria ocorrerá não apenas na Europa, mas em todo o mundo. “Sabemos que temos de fazer muitas coisas para reduzir os efeitos das mudanças climáticas e os tempos de incertezas no mundo. Os investimentos para a transformação estão em andamento e em discussão. Precisamos de uma resposta quando não estiver ventando ou não tiver sol e precisamos que a indústria se mantenha no país e não vá embora porque o preço da energia subiu muito”, afirma o presidente do conselho administrativo da Deutsche Messe AG.
Uma das apostas para acelerar a passagem de uma matriz energética focada em combustíveis fósseis para uma que seja baseada em geração de eletricidade a partir de fontes limpas é o hidrogênio. “O hidrogênio é uma parte nova da indústria e, se vamos realmente usá-lo, precisamos primeiro uma enorme quantidade de produção, por isso temos que criar parcerias estratégicas. É o que se está fazendo com a Noruega e a Espanha. Nesse aspecto, é preciso ter investimentos oficiais criando infraestrutura não apenas aqui, mas em países estrangeiros”, diz Dr Köckler.
A perspectiva de empresários, segundo ele, é que o hidrogênio ganhe escalabilidade e passe a ser uma das fontes renováveis importantes para a indústria nacional no período de sete a dez anos. E no novo modelo de base energética, a Noruega já se
posiciona como país parceiro estratégico da Alemanha.
“Nós temos um projeto muito importante em andamento com a Alemanha. Criamos uma força tarefa para entender como podemos operar em relação ao hidrogênio. A indústria alemã precisa de muito hidrogênio e nós temos os recursos necessários. Por isso, estamos em conversas para criar um business case. Queremos fazer esse negócio muito maior e queremos exportar. No momento, estamos olhando as
questões legais para seguir adiante”, afirma Laila Stenseng, embaixadora da Noruega na Alemanha.
A Noruega foi escolhida como país parceiro da feira neste ano, o que lhe confere mais espaço de divulgação de produtos e tecnologias de empresas norueguesas no evento. O Brasil é o candidato ao posto de país parceiro para 2026, depois do Canadá, que já foi indicado para a vaga no ano que vem.
É nesse cenário de novas cooperações energéticas que o Brasil tem grande chance de aumentar suas exportações. “Com certeza, haverá muitos compradores para um país enorme como o Brasil, que tem muita capacidade de gerar energia limpa”, diz Dr. Jochen.
Para ele, as perspectivas de negócios são claras, o que é necessário entender é quanto o Brasil consegue produzir não apenas para consumo interno, mas para exportação. “Fora isso, é preciso ver questões como a infraestrutura e a logística para transporte do hidrogênio até os compradores. E o ponto mais importante de todos: a que preço que deve chegar ao mercado internacional?”
O Brasil tem potencial técnico para produzir 1,8 bilhão de toneladas de hidrogênio por ano, de acordo com as Comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Meio Ambiente (CMA) do Senado. A projeção, no entanto, está atrelada a dúvidas colocadas pelos próprios senadores, em audiência pública na Casa, de como, quando e o que fazer para alcançar essa produção.
O secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Vasconcelos Barral, afirmou no Senado, no fim do mês passado, que o Brasil aparece como um dos países de hidrogênio comercial de menor custo no mundo. A partir do Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), a proposta é chegar até 2025 com plantas-pilotos pelo país e alavancar até 2030 dois ou três grandes projetos de hidrogênio no Brasil.
É por meio desse programa que o governo brasileiro pretende atrair investimentos da Alemanha para alavancar projetos de hidrogênio de baixo carbono no Brasil, criando plantas industriais de hidrogênio de baixo carbono no país, de acordo com Ministério de Minas e Energia, em evento que reafirmou a “Parceria Energética Brasil-Alemanha”.
“Queremos voltar a estabelecer o mesmo nível de parceria estratégia com a Alemanha que se deu nos anos 70/80. Estamos fazendo um grande esforço para posicionar o país como um parceiro estratégico na agenda de eficiência energética empresarial, que inclui o hidrogênio”, afirma Frederico Lamego, o superintendente de relações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Entre as ações para reforçar a posição do Brasil como integrante do mercado de fontes renováveis, está a formação de uma delegação com 200 empresários provenientes de sete estados brasileiros que vão participar da feira industrial Hannover Messe.
Segundo Lamego, a expectativa é que empresários e técnicos tenham contato com as tecnologias e inovações mais atuais e conheçam a agenda de interesse alemã. “O Brasil tem uma janela de dois anos para se posicionar, ganhar espaço nesse campo de cooperação e vencer seus desafios internos”, afirma o superintendente da CNI.
No Brasil, lembra ainda Lamego, o desafios passam pela criação de uma agenda de facilitação de comércio entre os dois países, avaliação de bitributação e fim do processo de avaliação do marco legal do hidrogênio para sanção presidencial.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/03/25/brasil-visto-como-potencial-fornecedor-de-hidrognio-para-indstrias.ghtml