Controlada pela Amazon, companhia domina o mercado de nuvem computacional e tem desde junho um novo executivo-chefe.
O mercado global de nuvem computacional, que no terceiro trimestre movimentou US$ 84 bilhões, com empresas armazenando e trafegando quantidades crescentes de dados, vem atraindo investimentos bilionários. Não apenas para construir “data centers”, mas também para garantir energia para fazer funcionar essa estrutura de prédios e computadores potentes. A Amazon Web Services (AWS), líder desse mercado, é uma das “big techs” com planos bilionários de expansão e vê no Brasil uma fonte de energia renovável para seus projetos.
Seu executivo-chefe (CEO) Matt Garman diz ao Valor, em uma entrevista on-line desde a sede da companhia em Seattle, que o Brasil “está 100%” inserido na estratégia de expansão de centros de dados da empresa, com geração de energia renovável. O executivo, que ingressou na AWS como trainee, na fundação da empresa, em 2006, assumiu o comando em junho deste ano, após atuar como vice-
presidente de vendas, marketing e serviços globais.
Garman diz que o Brasil tem papel importante na meta da Amazon de zerar as emissões de carbono em todas as suas operações até 2040. “Parte dessa estratégia não é apenas comprar créditos, mas realmente investir em novos projetos para trazer nova energia renovável para a rede. Achamos que essa é a coisa real, que faz a diferença para o mundo, em vez de apenas ir e comprar créditos ou coisas assim”, diz o executivo.
Dois dos 500 projetos de energia renovável nos quais a empresa investiu nos últimos cinco anos estão no Brasil. Um deles é uma fazenda solar no interior de São Paulo, com capacidade de geração de 122 megawatts (MW), que entrou em operação em outubro. O outro é um parque eólico de 49,5 megawatts (MW) inaugurado em janeiro, no Rio Grande do Norte.
Centros de dados são grandes consumidores de energia. Segundo projeção da Agência Internacional de Energia, o volume consumido por essas infraestruturas que reúnem milhares de computadores processando e armazenando dados na nuvem, mais do que dobrará entre 2022 e 2026. Isso inclui a demanda gerada pela inteligência artificial (IA) generativa. Em dois anos, os centros de dados consumirão
1.000 terawatts-hora (TWh), o equivalente ao consumo de eletricidade de todo o Japão.
A estratégia global da AWS ainda inclui energia nuclear, diz Garman. Segundo o executivo, o investimento em energia nuclear é necessário para dar conta da demanda. “Também estamos fazendo investimentos consideráveis em energia nuclear porque, se olharmos para os próximos cinco a dez anos, isso será um componente crítico para atender às necessidades de carbono ou energia do mundo”, diz o executivo. “Aumentar a energia nuclear será parte dessa solução também. Somente com energia solar e eólica não acreditamos que haverá projetos suficientes para realmente atender às necessidades energéticas do mundo”. Em outubro, a AWS firmou três acordos para o desenvolvimento de energia nuclear em pequenos reatores modulares, nos Estados Unidos.
Tendo em vista o cálculo do executivo, de que “menos de 20% das cargas de trabalho [aplicativos, serviços e recursos] migraram para a nuvem até o momento”, a construção de “data centers” será massiva nos próximos anos.
A AWS possui centros de dados no Brasil desde 2011. Em setembro, anunciou um investimento de R$ 10 bilhões, em dez anos, na ampliação de sua infraestrutura local. A concorrente Microsoft informou, em outubro, que investirá R$ 14,7 bilhões no país, em três anos.
A AWS lidera o mercado global de infraestrutura de serviços de nuvem com 31% de participação, no terceiro trimestre. Na sequência estão a Microsoft, com 20%, e o Google (13%) segundo dados da consultoria Synergy Research Group. Juntas, as três gigantes de tecnologia concentraram 64% dos US$ 84 bilhões investidos por empresas em nuvem, no terceiro trimestre deste ano.
Na visão de Garman, um dos segredos da empresa para sustentar sua liderança tem sido ajudar o cliente a reduzir custos. “Em 2023, vimos muitos clientes nervosos com a economia e, globalmente, buscando otimizar seus custos”, recorda. “Então fomos proativos e ajudamos os clientes a reduzirem suas contas”, frisa o executivo.
A estratégia rendeu uma fase de novos projetos de nuvem e IA neste ano, conta o executivo: “O que estamos vendo agora é que muitas dessas economias que os clientes obtiveram ao realmente apertarem os cintos em seus negócios principais, permitem que eles invistam na construção de aplicativos de IA em cima da nuvem AWS”.
Em 2025, com o republicano Donald Trump à frente da Casa Branca, Garman não prevê mudanças nos negócios. “Apoiamos o governo dos EUA tanto por meio de administrações republicanas quanto democratas”, diz. “Trabalhei de perto com ambos, incluindo a primeira administração Trump. Fomos grandes parceiros e desenvolvemos negócios com o governo federal”. As agências governamentais dos
EUA são clientes de nuvem da AWS.
A receita da AWS no terceiro trimestre cresceu 19%, para US$ 27,4 bilhões, em linha com as projeções dos analistas. Mas Wall Street eleva, a cada trimestre, a expectativa sobre a receita de nuvem e o controle de gastos das “big techs”, que vêm investindo
mais, em especial em ferramentas de IA. Garman não se abala. “O trabalho dos analistas é ter expectativas altas”, diz. No terceiro trimestre, o lucro operacional da AWS foi de US$ 10,45 bilhões, com alta de 49,8%, em base anual. As despesas operacionais subiram 5,7% no mesmo período, somando US$ 17 bilhões entre julho e setembro.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/11/21/brasil-e-fonte-de-energia-renovavel-para-a-aws-diz-ceo.ghtml