Integrantes do governo brasileiro que conduzem o debate do grupo de trabalho (GT) de transição energética do G20 — formado pelas 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana — comemoraram o fim do jejum de dois anos e meio que marcava a falta de consensos sobre esse tema entre os líderes envolvidos. O sucesso na negociação, defendido pelo governo brasileiro, deve ser confirmado em declaração conjunta após os encontros. O documento com as principais ações deve ser tornado público ainda hoje.
Após reunião iniciada na manhã de hoje, em Foz do Iguaçu (PR), os ministros aprovaram compromissos comuns que incluem metas para ampliar a oferta de energia renovável; oferecer financiamento para projetos; estabelecer certificação de combustíveis de baixa emissão; e apoiar pautas sociais que devem permear as diferentes iniciativas neste tema, como igualdade de gênero e combate à pobreza energética.
Na declaração ministerial, as autoridades se comprometeram a “apoiar a implementação de esforços para triplicar a capacidade de energia renovável” até 2030. Dentro deste prazo, os países do G20 também estabeleceram como meta “dobrar a taxa média global anual de melhorias na eficiência energética globalmente por meio de metas e políticas existentes”.
Para triplicar a capacidade de energia renovável, os ministros preveem adotar “várias abordagens” respeitando as circunstâncias nacionais, o que inclui medidas de “gerenciamento de demanda, retrofit de flexibilidade e expansão e modernização da infraestrutura de rede, backup e capacidades de balanceamento”. Neste caso, as ações buscam “aumentar a flexibilidade e a estabilidade do sistema” de oferta dessa energia.
“Enfatizamos a importância de acelerar a escala de implantação de tecnologias de armazenamento de energia, incluindo baterias e hidrelétricas de bombeamento. Melhorar a eficiência energética e as economias de energia como combustível prioritário”, informam os ministros em declaração conjunta. “Pedimos que os membros do G20 liderem a criação de um ambiente internacional favorável para
transições energéticas globais”, reforçaram.
O avanço na pauta de transição energética nas reuniões preparatórias para o encontro da Cúpula do G20, em novembro, no Rio, vem sendo buscado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Na Cúpula do G20, no próximo mês, a interação se dará entre os chefes de Estado dos países membros.
A evolução do debate em Foz do Iguaçu é atribuída às trocas bilaterais que antecederam o encontro desta sexta-feira. Um dos principais entraves à negociação em torno dos estímulos ao desenvolvimento de energia renovável partia das autoridades da Arábia Saudita, que chegaram a abandonar reuniões em edições anteriores do encontro, mas, desta vez, venceu a abordagem do tema proposta pelo governo brasileiro.
Sobre o apoio financeiro, os ministros do GT de transição energética reconheceram, na carta, a “necessidade de catalisar e aumentar o investimento de todas as fontes e canais financeiros para superar o déficit de financiamento das transições energéticas
globalmente e sublinhamos a urgência de mitigar riscos, mobilizar e diversificar os investimentos existentes e adicionais em tecnologias e infraestruturas de transição energética, especialmente em países em desenvolvimento”.
Dentro do esforço do Brasil de buscar financiamento para os países do Hemisfério Sul, os ministros reforçaram, no documento, que “os países em desenvolvimento precisam de apoio em suas transições para baixas emissões de carbono, trabalharemos para facilitar o financiamento de baixo custo para eles”.
Outra preocupação do governo brasileiro que foi convertida em compromisso dos ministros do G20 é com a valorização dos biocombustíveis. Após a reunião, as autoridades ressaltaram, formalmente, “o papel crucial de abordagens tecnologicamente neutras, integradas e inclusivas para desenvolver e implantar uma variedade de combustíveis e tecnologias sustentáveis”.
Ainda na pauta que alcança os biocombustíveis, os ministros defenderam a importância de organismos internacionais, envolvidos no desenvolvimento de metodologias e padrões de certificação, a colaborarem para aumentar a “consistência nas abordagens etodológicas para avaliar as emissões de GEE de combustíveis sustentáveis”. Esta iniciativa é considerada importante para buscar a “escalabilidade, acessibilidade, concorrência justa e implantação rápida de combustíveis sustentáveis, com padrões e metodologias de certificação mutuamente reconhecidos, interoperáveis, transparentes, comparáveis e verificáveis”.
Na pauta social, que o ministro brasileiro já vinha se engajando em outras agendas, os ministros do GT de transição se comprometeram “a acelerar os esforços para alcançar o acesso universal a métodos de cozimento limpos até 2030”. Na prática, as
iniciativas visam “aumentar os investimentos anuais e apoiar a acessibilidade dos projetos de cozimento limpo”.
Silveira também conseguiu a adesão aos princípios voluntários para a “transições energéticas justas e inclusivas”, também de acordo com as circunstâncias nacionais,vque devam ser considerados ao desenvolver e implementar políticas domésticas para o setor. Os dez princípios chegaram a ser levados pelo próprio ministro brasileiro em encontro com o Papa Francisco, no Vaticano.
Ontem (3), Silveira também tratou de transição energética com ministros do Clean Energy Ministerial (CEM) e da Mission Innovation (MI), em Foz do Iguaçu. Também foi acertado o apoio a medidas em prol das fontes de energia “limpa” e outras ações para frear o aquecimento global. Como exemplo, foram acolhidas definições do Acordo de Paris que envolve o objetivo de manter o aumento da temperatura média global “bem abaixo” de 2 °C frente aos níveis pré-industriais e de buscar esforços
para limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C também em relação aos níveis pré-industriais.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/10/04/brasil-costura-consenso-com-ministros-do-g20-para-triplicar-oferta-de-energia-renovvel-at-2030.ghtml