Baixo nível dos reservatórios e aquecimento global impulsionam busca por eficiência energética no Brasil

Embora a matriz energética brasileira seja majoritariamente limpa, com 60% da energia gerada por hidrelétricas, recurso enfrenta diversos desafios.

A conta de luz entra na bandeira vermelha, consequência do acionamento das usinas termelétricas, cuja produção de energia é mais cara e menos sustentável, uma vez que são movidas a combustíveis fósseis. Embora a matriz energética brasileira seja majoritariamente limpa, com 60% da energia gerada por hidrelétricas, o baixo nível dos reservatórios impõe desafios ao recurso. Nesse contexto se intensifica a busca pela eficiência energética. Nas residências e nas empresas, não há mais lugar para o desperdício.

A compra de eletricidade no mercado livre, majoritariamente provido por energia renovável de usinas eólicas e solares (20% da produção nacional) já é prática comum entre empresas, que poupam na fatura e ainda ostentam o selo da sustentabilidade. Obter de fato a eficiência energética, porém, é tarefa mais
complexa. Se no ambiente doméstico a mudança de comportamento vai no sentido de encurtar banhos e desligar aparelhos, na escala industrial demanda rever processos.

— A indústria busca, desde sempre, melhorar a eficiência, adotando novas tecnologias, mas a pressão aumenta em razão das preocupações ambientais — afirma Carlos Faria, diretor-presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace).

A Diebold Nixdorf, que detém 60% do mercado brasileiro de caixas eletrônicos e fabrica globalmente 60 mil ATMs por ano, decidiu apostar na melhoria de eficiência dos equipamentos. Em 2021, a empresa lançou o ATM DN Series 400. De acordo com Sandro Bernardi, head da divisão de produtos da companhia no país, o modelo, que leva materiais reciclados na composição, é 30% mais leve do que os similares da geração anterior, o que possibilita economizar 10% de energia.

— Os novos ATMs são dotados de recicladores de notas, que permitem que os depósitos sejam usados nos saques seguintes, função que diminui a necessidade de reabastecimento dos caixas, ajudando a reduzir as emissões de CO2 no transporte de valores — diz.

Distribuição de subsídios
Para Fernando Beltrame, CEO da startup Eccaplan Soluções em Sustentabilidade, o ideal seria pensar em eficiência energética desde a fundação de uma organização:
— Sempre que possível, convém incluir no projeto a bioconstrução, criando ambientes arejados, que não necessitem de ar-condicionado para o conforto térmico.

Com a temperatura planetária 1,2°C mais alta em relação a antes da Revolução Industrial, o ar-condicionado será o principal impulsionador do crescimento da demanda por eletricidade nos próximos 30 anos, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Grande consumidor de energia, o aparelho já é responsável por mais emissões de CO2 do que toda a indústria da aviação.

Outro exemplo que parece opor conforto e economia na vida contemporânea: uma pesquisa na internet, quando feita por meio do buscador mais usado, consome, em média, 0,0003 kWh, de acordo com estimativas da Universidade Harvard. Já uma consulta à inteligência artificial (IA) gasta 0,01 kWh, 33 vezes
mais.

Para Beltrame, “o uso de IA tende a crescer, contribuindo para extrapolar compromissos de redução nas emissões”.

Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), lembra outro entrave no caminho da eficiência: o furto de energia.

— Os roubos nos custam toda a operação de Belo Monte, algo da ordem de 4 megawatts —diz. — Precisamos repensar também a destinação de subsídios.

Faria, da Anace, alinha-se a essa visão:
— No Brasil, temos a capacidade instalada de produção de eletricidade de 190 gigawatts (GW); consumimos 70 GW e ainda assim temos que ligar as térmicas. Há algo errado, principalmente na distribuição de subsídios.

Iluminação mais eficiente
O Programa de Eficiência Energética (PEE) da Agência Nacional de Energia Elétrica(Aneel) recebe aportes entre R$ 600 milhões e R$ 1 bilhão por ano, que correspondem a 0,5% da receita operacional líquida das distribuidoras. O dinheiro é arrecadado por meio de desconto nas contas de eletricidade. O plano prevê que as concessionárias apliquem esse montante em projetos que visam a redução do consumo de energia. Já os subsídios concedidos à produção eólica e solar chegam por meio de isenção de impostos, linhas de crédito mais baratas, descontos nas tarifas de transmissão e distribuição, entre outros incentivos
fiscais, totalizando cerca de R$ 6 bilhões por ano, de acordo com cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2022.

A Neonergia, que detém cinco usinas hidrelétricas, 44 parques eólicos e dois parques solares, com capacidade instalada de 3,8 GW, além de cinco distribuidoras, usou R$ 129 milhões captados via programas de eficiência energética para trocar a iluminação pública de 150 cidades brasileiras,
substituindo 120 mil lâmpadas por outras mais eficientes, de tecnologia LED, gerando uma economia de 70 GWh por ano desde 2023.

Por O Globo.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/09/30/baixo-nivel-dos-reservatorios-e-aquecimento-global-impulsionam-busca-por-eficiencia-energetica-no-brasil.ghtml

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