Declarações vão no mesmo sentido das manifestação de especialistas que alertam para a necessidade de adequar o funcionamento do sistema elétrico ao aumento de oferta de energia por fontes renováveis.
Uma semana depois do blecaute que atingiu 25 Estados e o Distrito Federal, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, reforçou a necessidade de promover mudanças na forma de funcionamento do setor elétrico. As declarações, dadas a jornalistas após a reunião semanal da diretoria, vão no mesmo sentido das manifestação de especialistas que alertam para a necessidade de adequar o funcionamento do sistema elétrico brasileiro ao aumento de oferta de energia por fontes renováveis.
Na terça-feira (15), o desligamento da rede de transmissão da Chesf no Ceará, entre Quixadá e Fortaleza, resultou no apagão que atingiu todos os Estados, com exceção de Roraima. Ainda não foram divulgadas as causas do mega blecaute, mas existe a suspeita de que houve um erro no sistema de proteção no Sistema Interligado Nacional (SIN), que não teria conseguido lidar com complexidades do aumento de oferta de energia solar e eólica, consideradas fontes intermitentes.
“Há necessidade de uma mudança sobre o ponto de vista do arranjo regulatório, da remuneração, dos atributos de fontes, e também a condições relacionadas à operação do sistema elétrico”, disse Feitosa.
Ele confirmou que é preciso cuidar das variáveis de “potência” e “inércia” na rede, que faltam às fontes renováveis e são importantes para manter a confiabilidade do sistema. Estas características são encontradas nas usinas hidrelétricas e termelétricas.
“O sistema brasileiro era um sistema hidrotérmico, ele é preparado para ter usinas hidráulicas e térmicas. Com o ensinamento de 2001 [o racionamento de energia, no governo FHC], houve a conclusão que nós teríamos que diversificar as fontes, e assim fizemos. Temos hoje um exuberante potencial, e implantados, de usinas eólicas e usinas solares”, disse o diretor-geral da Aneel.
O diretor da agência reguladora ressaltou que a necessidade de “adaptar” o funcionamento do setor é justificada pela “multiplicidade de tecnologias”, que ainda inclui a possibilidade de produção da própria energia, modalidade chamada de mini e micro geração distribuída.
“[Com] cada uma com a sua característica física intrínseca, você tem que adaptar a sua forma de operar. Era muito mais fácil prever o regime hídrico, que tem séries há mais de décadas”, disse Feitosa.
Feitosa destacou ainda que o órgão regulador apenas define os “critérios”, nos procedimentos de rede, que devem ser observados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) para garantir a proteção do sistema elétrico.
O diretor da agência explicou que existem, de um lado, as “proteções intrínsecas” que são definidas pelos fabricantes para uso dos equipamentos com efeito local. De outro, tem um “conjunto de proteções” de “efeito sistêmico”, que é de responsabilidade do ONS.
“A coordenação dos ajustes de proteção de forma sistêmica no Brasil é responsabilidade do Operador Nacional do Sistema Elétrico”, afirmou Feitosa.
“A Aneel não aprova ajustes de proteção em lugar nenhum. O que a Aneel faz é, nos procedimentos de rede, definir os critérios”, complementou, ressaltando que o “desenho” dessa proteção “ao longo de todo o Sistema Interligado, em conjunto com as empresas, é uma operação, é uma atividade, que é de responsabilidade do ONS”.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/08/22/apos-blecaute-diretor-geral-da-aneel-reforca-necessidade-de-mudanca-no-funcionamento-do-setor-eletrico.ghtml