Na guerra da energia limpa, hidrelétricas defendem mudança de regras de leilão

Associação de geradoras afirma que disputa por preço mais baixo acaba encarecendo conta de luz

Charles Lenzi preside a Abragel, associação de geradoras de energia limpa, a maioria hidrelétricas. Defensor de todas as tecnologias, ele apresentou ao governo um estudo nesta semana para mostrar que os leilões, definidos pelo critério de menor preço por megawatt-hora, estão encarecendo a conta de luz ano a ano.

Isso não é um ataque às fontes solar e eólica?
Não é uma crítica a nenhuma fonte. Todas elas são importantes para o sistema elétrico, mas todas carregam custos indiretos diferentes, que não são considerados no cálculo da energia contratada pelo governo nos leilões.

Como assim?
Em Belo Monte, o preço da energia foi fixado em R$ 75 o MWh [megawatt-hora]. Mas para chegar no Sudeste, por exemplo, era preciso construir linhas de transmissão cujo custo, se fosse computado, dobraria o valor da energia da usina. Esse custo foi posteriormente repassado para a tarifa e dividido pelos consumidores.

Qual é a energia mais barata?
A hidráulica. O estudo da consultoria Volt Robotics mostra que esses custos indiretos são maiores na solar (equivalem a 67% do custo total) e na eólica (54%). Nas hidrelétricas, eles representam só 15% e, nas PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas], 27%.

O governo poderia discriminar fontes e dizer de qual delas compraria a energia mais barata?
Não, mas pode definir requisitos técnicos para a compra. Em um leilão de capacidade [para energia de segurança com carga elevada] exigiria uma tecnologia capaz de entregar potência em um intervalo curto de tempo, algo que nem todas conseguem.

Isso é uma forma de direcionar a disputa, não?
Sem dúvida. No passado, o presidente do ONS [Operador Nacional do Sistema] defendia a realização de leilões por região do país. Isso para evitar que o Sul, por exemplo, que precisava de geração firme, fosse abastecido por uma geração eólica do Nordeste.

De novo, não é uma defesa das hidrelétricas?
Não dá para abrir mão de hidrelétrica em um país com muito potencial a ser explorado. A bateria natural de energia que temos é a hidráulica.

Mas o impacto ambiental é maior.
Sim, mas acho que importamos um conceito europeu de que fonte renovável é eólica ou solar. Só que lá eles não têm potencial hídrico. O Reino Unido saiu do carvão e não tem matriz hidráulica expressiva. Em contrapartida, a Áustria tem cerca de 4.000 pequenas centrais hidrelétricas.

Por Folha de São Paulo.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2024/08/na-guerra-da-energia-limpa-hidreletricas-defendem-mudanca-de-regras-de-leilao.shtml

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