Eduardo Sattamini destacou ainda que em breve será possível tratar com o controlador para trazer participação em Jirau para operação brasileira.
A receita da térmica a carvão Pampa Sul, vendida em maio do ano passado, deixou de contribuir para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), mas esse movimento foi compensado parcialmente com a implantação de novos projetos de geração renovável, disse nesta quarta-feira (28) o presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini.
Segundo o executivo destacou, em teleconferência com analistas sobre os resultados do quarto trimestre e de 2023, a venda da usina tornou a Engie Brasil Energia a maior empresa de geração de energia elétrica 100% renovável.
Sattamini disse ainda que a companhia companhia pode ter, num futuro próximo, conversas com seu controlador, a Engie, para que passe a controlar a participação de Jirau, hidrelétrica de 3.150 megawatts (MW) localizada em Rondônia.
Segundo ele, a hidrelétrica é financeiramente equilibrada e gera caixa. “Será uma decisão isenta”, disse.
Jirau é controlada por uma sociedade de propósito específico (SPE) que tem a Eletrobras e a Mitsui como acionistas, além da Engie. A Engie Brasil Energia reúne todos os projetos de energia e a transferência do ativo seria algo previsível.
O diretor financeiro e de relações com investidores da Engie Brasil Energia, Eduardo Takamori, afirmou que a empresa evoluiu na diversificação no portfólio.
Em 2016, destacou, 100% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado era proveniente da geração. Hoje, esse segmento corresponde a 76% do Ebitda ajustado.
Endividamento
O endividamento da Engie Brasil Energia é “equilibrado”, com alavancagem de 2,0 vezes, disse o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Eduardo Takamori.
Segundo ele, o aumento do saldo da dívida se deu para liberar o caixa, mas os recursos ainda não foram totalmente usados.
A empresa destinará os recursos de dívida para os investimentos em projetos de geração renovável e transmissão.
A dívida da Engie Brasil Energia tem a seguinte composição: 78% atrelada à inflação (IPCA), 17% ao CDI e 5% à taxa de juros de longo prazo (TJLP), vinculada a financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O prazo médio da dívida da empresa é de 7,4 anos. Takamori salientou que a redução da inflação em 2023 beneficiou a empresa no resultado financeiro, com menos encargos de dívida. “Quando temos um IPCA mais baixo, isso nos beneficia.”
Demanda de energia
Sattamini acrescenta que não há demanda de energia que estimule a realização de leilões de energia nova, como são chamados os certames para contratar energia elétrica de projetos de usinas que ainda não saíram do papel.
O motivo, segundo ele, é a chamada “espiral da morte” que vive o setor elétrico, concentrado na distribuição.
“Sem demanda, o leilão [de energia] não deve sair”, avaliou Sattamini em teleconferência sobre os resultados da Engie Brasil Energia para o quarto trimestre e para 2023.
Ele explicou que as distribuidoras estão perdendo clientes para o mercado livre – e desde janeiro, as restrições para migração foram retiradas para os consumidores conectados em alta tensão.
Como as distribuidoras estão com volume de energia contratada para os próximos anos muito acima do consumo real, a chamada sobrecontratação, elas teriam menos “disposição” para entrar em novos leilões.
“É uma loucura que estamos vivendo e [ainda mais] estimulada pelo crescimento da GD [geração distribuída]”, disse Sattamini. GD é a micro e minigeração distribuída, modalidade que envolve, majoritariamente, a contratação de energia solar em telhados ou em condomínios solares (a energia por assinatura). A fonte solar é responsável por cerca de 95% da micro e minigeração distribuída.
Com as migrações para o mercado livre e as adesões à GD, as distribuidoras, que contratam energia nos leilões por prazos que variam entre 15 e 30 anos, não podem “devolver” essas sobras contratuais, nem comercializar no mercado. Há mecanismos que permitem a cessão de energia entre as distribuidoras, mas elas não são suficientes para absorver esse volume a mais.
Como as distribuidoras não podem “devolver” essa energia excedente, a realização de leilões de energia nova torna-se mais difícil. As migrações para GD e mercado livre se dão porque os consumidores buscam economia na conta de luz. “Precisamos parar e olhar, para que o consumidor mais pobre, com menos recursos, pague pelos mais ricos [que podem migrar para alternativas mais econômicas]. É
uma mensagem para o Congresso e para o governo. Espero que caia a ficha [das autoridades], é importante para a saúde do setor”, disse Sattamini.
O executivo destacou ainda que a Engie aguarda a definição de um arcabouço regulatório para o hidrogênio verde para que projetos no segmento avancem. Disser também que tem visto movimentação de consumidores em busca de mais contratação de energia no longo prazo para fugir da volatilidade de preços causada pelo atual cenário hídrico, que tende a caminhar para um volume de chuvas mais
baixo.
Ele também respondeu a um analista que não está olhando eventual compra de participação da Cemig na transmissora Taesa, à venda.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/02/28/renovaveis-compensaram-parcialmente-perda-de-receita-de-termica-diz-presidente-da-engie-brasil.ghtml