Geração distribuída já representa 11% de toda energia gerada no país

Expansão da geração própria aumenta o desafio de gerir a intermitência dos parques de energia eólica e solar.

A geração de eletricidade pelos próprios consumidores, por meio da geração distribuída (GD), alcançou 23 gigawatts (GW) de capacidade instalada em agosto, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Com o uso de painéis solares, estes consumidores reúnem 11% de toda a geração do país (210,7 GW).

O ganho de escala da própria energia supera o ritmo de crescimento das fontes renováveis do modelo de geração centralizada. Nela, grandes parques de energia eólica e solar, projetados para atender o crescimento do mercado, são conectados diretamente às linhas de transmissão.

Na GD, o consumidor interage com a rede da distribuidora local. Ao fazer a adesão, é possível reduzir — ou até zerar — o valor da conta de luz. O desconto na fatura vem da redução do consumo da energia da distribuidora e da injeção do excedente gerado pelo painel solar na rede elétrica da mesma companhia.

Com incentivo financeiro à disposição, a GD assumiu o posto de terceira maior fonte de geração do país, atrás das hidrelétricas, com 52%, e da geração eólica, com 13%. Esta expansão colocou um ingrediente a mais à complexidade para operação do sistema, que já conta com o desafio de gerir geração intermitente dos parques de energia eólica e solar.

Dentro do sistema, a geração distribuída funciona, até determinado momento, como inibidora do consumo. Mas, quando os painéis começam a gerar excedente, a injeção de carga na rede faz o consumidor atuar como uma fonte adicional de energia, que precisa de uma destinação.

Questionado na semana passada sobre como lidar com a GD no sistema, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, disse, ao Valor, que é percebida uma mudança recorrente no “perfil de carga”. “Nós precisamos calcular a carga líquida, que é a diferença entre o que está sendo consumido e o que está sendo injetado pela geração distribuída”, disse.

O atual modelo de GD ainda é criticado por parte do setor por “prejudicar” os consumidores que não fizeram adesão. “Quando tem uma casa com GD e a outra casa sem, todas usam o mesmo transformador, estão ligadas à mesma rede e se beneficiam da confiabilidade do serviço. Só que uma paga integralmente pela rede e outra não”, afirmou Ricardo Brandão, diretor de regulação da Abradee, que representa as distribuidoras de energia.

Atualmente, as distribuidoras atendem 90 milhões de unidades consumidoras no país. Deste total, 2,09 milhões de clientes aderiram à geração distribuída.

Brandão disse ainda que os encargos setoriais endereçados à conta de luz são assumidos na maior parte por quem não fez adesão. Isso inclui a despesa com sobra de energia contratada em leilões, o que tende a aumentar sempre que o consumidor da GD injeta seu excedente na rede.

O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Guilherme Chrispim, defende que essa geração “traz muitos benefícios”, ao reduzir a “pressão sobre a rede em diversos momentos” e evita o uso de outras fontes “mais caras e poluentes”, como as térmicas.

Chrispim considera que a expansão da GD também está sendo ditada pelos “vários modelos de adesão”, que incluem a “geração compartilhada” com novos mecanismos de financiamento.

Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/08/29/geracao-distribuida-ja-representa-11-de-toda-energia-gerada-no-pais.ghtml

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