Abertura do mercado de gás no Rio atrai grandes consumidores

Gerdau e CSN aderiram ao ambiente livre, mas riscos aos primeiros entrantes são elevados.

A abertura do mercado livre de gás natural no Rio de Janeiro marca um importante movimento entre as grandes empresas consumidoras do insumo. A expectativa de migração para esse modelo de contratação é elevada, mas ainda há correções a serem feitas e os riscos para quem entra nesse segmento não são poucos.

Os primeiros acordos com produtores ou comercializadoras foram firmados na busca de melhores condições de preço e suprimento, flexibilidade para definir valores de contratos em diferentes indexadores, novos canais de fornecedores e competitividade.

O Rio de Janeiro responde por mais de 70% da produção nacional de gás. O novo modelo tem gerado otimismo entre grandes consumidores, petroleiras e empresas de transporte de gás, que veem novas oportunidades no setor.

A Gerdau deu o pontapé em um contrato com a e a Naturgy para suprimento de gás natural à Cosigua, unidade de produção de aços longos no Rio, na primeira migração de um cliente do mercado industrial regulado para o mercado livre no Estado.

Depois, a siderúrgica CSN, principal consumidora livre de gás do país, migrou a usina Presidente Vargas (UPV), em Volta Redonda (RJ), para o ambiente livre de contratação de gás. A mudança ocorreu por meio de uma assinatura de um contrato com um pool de empresas – , Shell e Galp -, que garante o fornecimento de 1.350.000 m3 de gás por dia.

Ao Valor, Rogério Pizeta, diretor de energia da CSN, diz que a migração é justificável, pois a empresa, por si só, era responsável por cerca de 60% do volume comercializado pela distribuidora local, a Ceg-Rio, o que permite ao grupo tratar diretamente com os produtores condições melhores.

“Faz sentido para uma empresa do nosso porte assumir um pouco mais de risco e entrar no mercado livre (…). Contratamos não apenas a molécula, como também o transporte de saída com a NTS [operadora de gasodutos], e isso me dá a liberdade de buscar o gás natural de outros supridores”, diz.

Pizeta prevê aumento no suprimento de gás no curto e médio prazo e diz que, até alguns anos atrás, o Brasil contava apenas um fornecedor, a . Hoje, no entanto, a entrada de novos fornecedores e distribuidoras privadas estimulou a concorrência e mais investimentos no setor.

Embora consigam melhores condições financeiras, os novos entrantes também assumem o risco de eventual falta de suprimento, precisando buscar por conta própria contratos de molécula com prazos definidos, e ficam mais expostos às oscilações de preço com o contexto geopolítico, fatores que geralmente não ocorrem no mercado regulado (atendido pelas distribuidoras de gás).

A Shell Energy Brasil será responsável pelo fornecimento de 50% do volume diário contratado pela CSN. O presidente da empresa, Rodrigo Soares, diz que o ambiente de negociação do mercado livre permite que o cliente tenha liberdade de negociar a molécula de gás de acordo com seu perfil de consumo, além de poder gerenciar seu portfólio de acordo com as flutuações comprando e vendendo no mercado spot,
sem multas ou penalidades.

“Fomos o primeiro distribuidor do pré-sal além da a negociar para o mercado regulado. Também fomos o primeiro vendedor do mercado livre e viemos com uma série de novos produtos para revolucionar esse mercado”, diz.

Hoje, a detém 80% da produção e reinjeta o gás natural nos poços durante a exploração para manter a pressão do reservatório e aumentar a recuperação de petróleo. A empresa informou recentemente que a reintrodução de gás nos campos em que opera passará por “correção de rumo”, mas o aumento do
aproveitamento será feito só em novas plataformas, pois não é possível mudar projetos já entregues ou contratados.

O gerente-executivo de gás e energia da , Álvaro Tupiassú, diz que a companhia vem oferecendo ao mercado desde 2023 novos produtos comerciais, mais flexíveis às necessidades dos clientes. Ele espera que a dinâmica de mercado e o crescimento de oferta previstos no planejamento, com a entrada de uma nova capacidade de escoamento na Rota 3, juntamente ao portfólio pelas demais fontes de ofertas domésticas e importação da Bolívia e nos terminais de GNL, permitam a atuação competitiva da companhia.

“Prevemos mais de US$ 7 bilhões de investimentos em novas infraestruturas de ofertas de gás natural. Estamos investindo também em um novo canal de relacionamento com os clientes, que tem como objetivo principal gerar valor e facilitar para o cliente a gestão dos contratos com a .”

A ampliação do mercado livre ocorre em um momento em que o governo formaliza o programa Gás para Empregar, mais uma tentativa de oferecer gás mais barato aos consumidores. A proposta foi criticada. Agentes enxergam traços de intervencionismo, já que a medida estabelece que a agência reguladora ANP
determine a redução da reinjeção de gás natural “ao mínimo necessário”, incluindo a fixação do volume máximo a ser reintroduzido nos poços, o que pode abrir uma onda de judicializações no país.

A Abrace, associação que representa os grandes consumidores livres de energia, entretanto, vê a iniciativa como positiva. Argumenta que o número de consumidores que conseguem comprar o gás diretamente dos produtores ainda é pequeno. A entidade vê avanços, como o acesso a gasodutos de escoamento e ao processamento de GNL da , considerados infraestrutura essencial, a um custo justo.

Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/09/02/abertura-do-mercado-de-gas-no-rio-atrai-grandes-consumidores.ghtml

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